segunda-feira, 22 de maio de 2017

Atafona além do avanço do mar

(Fotos: Ralph Braz | Pense Diferente)
Como falar de Atafona? Será mesmo um moinho? Quais os ventos que sopram por essas bandas? São as histórias de pescador, a memória do trem, o desastre ambiental ou a beleza do cotidiano que se esconde em meio ao caos?

Atafona, distrito de São João da Barra, fundada por um pescador em 1622, é mais conhecida pelo fenômeno natural do avanço do mar, que desde a década de 50 tem levado diversas ruas e casas na localidade. Guarda também o patrimônio ambiental de ser foz do rio Paraíba do Sul e cenário histórico da economia, com a era do trem. Já foi visitada por figuras ilustres, que sempre aparecem para pesquisar, gravar ou se tratar. Há também a areia medicinal e colônia espiritual, que marcam outros aspectos do lugar. Por Atafona, já passou até disco voador, contam os populares. Mas, o que há por de traz das ruínas? Como vivem as pessoas desse balneário? Atafona vive, existe e resiste com seus sabores, cores e personalidades.


Um dos marcos da praia sanjoanense é o bolinho de aipim, servido no restaurante do Ricardinho, localizado ao lado da Igreja de Nossa Senhora da Penha em Atafona. “Vir a Atafona e não comer bolinho de aipim do Ricardinho é como ir a Roma e não visitar o Vaticano”, expressou Carlos Augusto ao aguardar o tão famoso bolinho na mesa do restaurante.

O restaurante foi fundado em 1978 pela família de Ricardo Hissa, campista de coração atafonense, que escolheu o vilarejo para constituir sua família, seus amigos e empreendimentos. A receita veio da sogra do Ricardo, Minervina Pereira, que fazia os bolinhos em casa e passou os ensinamentos para filha Cristina, responsável até hoje pelo tempero do quitute.


Nem sempre o restaurante teve esse endereço, as primeiras versões, ficavam localizadas próximo ao Pontal e tristemente foram tomadas pelo mar. No atual endereço, o Ricardinho funciona há 20 anos.

Segundo a herdeira da receita, Camila Hissa, o bolinho não possui mistério. “É apenas a massa fresca do aipim, que não leva trigo e nenhum outro material de liga. A gente tempera e coloca o recheio, que também é fresquinho”. Camila, administra hoje o restaurante junto de seu esposo, o chef Lucas Miranda. O bolinho, antes só de camarão, carne seca e queijo, hoje sofreu algumas alterações, misturando recheios e recebendo deliciosos molhos, criações do chef Miranda.

Camila conta que o foco dos pais sempre foi trabalhar com pescados, por isso a preocupação atual do restaurante é manter a valorização dos produtos locais e serem reconhecidos pela especialidade em frutos do mar. Além de manter viva a memória do chefe da família. “Muitas pessoas vêm para Atafona para ver o que aconteceu e acabam escolhendo o lugar para gastar seu dinheiro, passar as férias. Atafona tem vida, se não tivesse, ninguém moraria aqui. O que aconteceu é triste, têm muitas histórias e lembranças envolvidas, mas trabalho segue”.



Por Jéssica Felipe





Fonte: Blog Opiniôes