sexta-feira, 15 de abril de 2022

Maior tragédia ambiental da história de Petrópolis completa dois meses


Ao sair de casa na tarde de 15 de fevereiro para ir a um shopping, que ficava há poucos metros do imóvel em que vivia na Rua Teresa, Sheila da Silva Guimarães (40 anos) não sabia que seria a última vez que veria lugar que guardava toda história de sua vida com o marido de 47 anos e com a filha, de 22. Ela também não sabia, ainda durante o temporal, que a conversa ao telefone com o marido Marcelo de Souza (47 anos) - que tentava acalmá-la por conta das chuvas - seria a última entre o casal. O temporal que destruiu a cidade naquela tarde, também devastou a vida de Sheila. Ela perdeu o marido e todos os pertences soterrados por uma avalanche de pedras e terra na Rua Teresa, 968. Dois meses após a tragédia, ainda sem receber o aluguel social, Sheila, que está em tratamento oncológico, tenta ao lado da filha recomeçar a vida.

“Eu e minha filha estamos tentando recomeçar, mas é muito difícil. Perdi meu marido, minha casa foi totalmente destruída, só nos restou a roupa do corpo. Hoje olho ao meu redor e não reconheço nada, pois tudo que fazia parte da minha história se perdeu. Tudo que tenho hoje foi doado por parentes e amigos. Eles se uniram e me ajudaram a conseguir pagar o aluguel de um apartamento no BNH, no Quitandinha, onde estou com a minha filha. Estou preocupada, pois até o momento não tenho certeza se receberei o aluguel social. Me disseram agora que deve sair em maio, mas já se passaram dois meses. Sem este auxílio está difícil”, conta.


No dia seguinte da tragédia, Sheila já procurou cadastrar a família para o aluguel social. O cadastro inicial foi feito no Colégio Rui Barbosa; depois ela esteve no Crasdo Quitandinha, onde fez a inscrição no Cadúnico e preencheu outro cadastro.

“Como não tive retorno, no dia 31 fui ao Cras na Rua D. Pedro, lá eu já levei o contrato de aluguel que fiz e entreguei todos os documentos, inclusive o laudo de interdição da minha casa. Me disseram que em uma semana me ligariam, mas não ligaram. Estive lá essa semana e me informaram que será liberado somente no começo de maio. Sei que não vamos ter nunca mais a vida que tínhamos antes, mas está muito difícil recomeçar. Já se passaram dois meses e continuamos nessa confusão”, afirma.

Pagamento de aluguel social foi anunciado dias após a tragédia de fevereiro

O pagamento do aluguel social, com valor reajustado para R$ 1 mil, foi anunciado pelo governador Cláudio Castro e pelo prefeito Rubens Bomtempo nos dias seguintes ao temporal do dia 15 de fevereiro. Na ocasião, ficou acertado que o Estado seria responsável pelo repasse de R$ 800,00 e o município por um complemento de R$ 200,00. De lá pra cá cerca de 3.700 pessoas foram cadastradas para receber o auxilio. Destes, apenas 817 tiveram o valor depositado pelo Estado.

O município informa que formalizou mais de 1.800 contratos de aluguel de imóveis para vítimas das chuvas, mas mesmo entre estes, há casos em que o benefício ainda não foi liberado. Na segunda-feira, durante uma audiência na 4ª Vara Cível, o município informou que até a data apenas 136 contratos foram pagos e que estres são referentes a vítimas cujos imóveis foram locados ainda em fevereiro.

Há, no entanto casos como o da família de Josiane da Silva Franco, cuja casa na Ladeira Modesto Garrido, na Rua 1º de Maio, está interditada há dois meses, com documentação entregue, mas ainda sem que o pagamento fosse feito. “Estamos sem acesso a nossa casa desde a chuva do dia 15. O cadastro foi feito pelo meu marido, Michael Nelson Gonçalves da Silva Ferreira no Colégio Rui Barbosa, no dia 18 de fevereiro. Fizemos todo o trâmite. Corremos atrás e conseguimos alugar um imóvel com a ajuda de pessoas que fizeram doação por pix. Logo que tínhamos o contrato, o laudo de interdição e os documentos, meu marido foi em um ponto de atendimento que havia na subida da 24 de Maio e fez novamente o cadastro. No dia 10 de março eles já tinham toda nossa documentação e o contrato, mas até agora não conseguimos receber o aluguel social”, conta.

Situação semelhante vive Patrícia Azevedo Girould, que tem dois filhos, um dos quais com transtorno de espectro autista. Ela conta que perdeu a casa na Vila do Cortiço, no Capitão Paladini na chuva de 15 de fevereiro. “Fiz o primeiro cadastro no dia 18 de fevereiro, no Colégio Rui Barbosa. Depois fui até o Cras, fiz outro cadastro, peguei o contrato, levei pra assinar. Fiz tudo conforme me mandaram fazer, entreguei tudo, mas até hoje nem eu, nem a proprietária do imóvel recebemos o aluguel”, conta, destacando que conseguir o aluguel social é a prioridade no momento. “Nosso psicológico fica muito abalado com tudo isso. A vida vai demorar a voltar ao normal, mas o aluguel social é um ponto de partida para conseguirmos começar a reorganizar as coisas. Peço a Deus que tudo seja resolvido logo”, desabafa.

O que diz o Estado

No dia 7 de abril, o Estado realizou o pagamento da primeira parcela mensal do Aluguel Social a 817 famílias vítimas das chuvas em Petrópolis que estavam dentro dos critérios de elegibilidade do programa e com contas ativas na Caixa Econômica Federal, instituição financeira que realiza os pagamentos pelo Estado.

Na primeira reunião da Câmara Técnica Bipartite, realizada na terça-feira,12, ficou estabelecido que a prioridade do Estado e do Município será a troca de informações entre as partes, o que vai acelerar a verificação e qualificação das fichas já preenchidas. Com isso, um número maior de famílias cadastradas por equipes do Estado e da Prefeitura poderão receber o benefício no mais curto prazo.

O governo do Estado esclarece que as famílias que ainda não apresentaram laudo da Defesa Civil Municipal comprovando a interdição ou demolição do imóvel têm o prazo de 60 dias para apresentar o documento, contados a partir do primeiro pagamento do benefício. Já as famílias que não apresentaram o número do NIS, poderão fazê-lo em até 90 dias.







Fonte: Diário de Petrópolis