domingo, 11 de agosto de 2024

A cara da miséria de um país: 68 milhões de brasileiros na pobreza


Foto: Ralph Braz | Pense Diferente

No título, a palavra “pobreza” estaria tecnicamente mais apropriada do que miséria. Mas, face à variação para ‘extrema’, optou-se por um termo único.

O Brasil, não obstante um dos países que mais concentram riquezas naturais do mundo, amarga a situação de ter 68 milhões de pessoas na pobreza e mais de 12 milhões ‘vivendo’ em pobreza extrema.

No entanto, essa lástima que atinge boa parte das cidades, não deveria ser tão ostensiva em Campos face à tradição, o histórico político e a trajetória econômica.


Recuando no tempo para que se dê maior clareza, nos anos 1677 a então Vila de S. Salvador começava a atrair volumosos investimentos e logo surgiram os engenhos de açúcar. Em 1835 a emancipação política conferiu à Vila status de cidade e o desenvolvimento deu um grande salto.

Mais adiante, a pecuária e o cultivo da cana inauguraram nova fase expansionista, com o município contabilizando quase 4 mil fazendeiros e 249 engenhos.

Décadas mais tarde Campos seria a primeira cidade do mundo a instalar filtros para tratamento de água. Quase que ao mesmo tempo, em 1883, a primeira da América Latina a contar com luz elétrica. Como dinheiro e política caminham lado a lado, eram frequentes as visitas de D. Pedro II à terra goitacá.

Campos – com todo respeito – não é Duque de Caxias ou Volta Redonda, fundadas, respectivamente, em 1943 e 1954, e nascidas com perfil de periferia. A terra goitacá tem quase 400 anos de história cultural, política e econômica, que lhe permite avançar onde a outras é quase impossível.



Pedintes

Cabe registrar, há 30 anos não víamos aqui crianças nos sinais de trânsito tentando vender uma bala ou simplesmente pedindo ajuda. Mas já era uma realidade assoladora em incontáveis outras cidades.

Nos últimos 10 anos o aumento da população em situação de rua cresceu assustadores 935%, o que representa mais de 200 mil pessoas. A questão envolve dificuldades gigantescas. Uma das mais penosas é que parte dos que são acolhidos por instituições ou pelo poder público acaba voltando, por opção própria, para as ruas. É algo difícil de ser compreendido, mas verdadeiro: preferem as ruas.

Supremo Tribunal Federal

Em 2023, o STF confirmou decisão do ministro Alexandre Moraes, proibindo que estados e municípios façam a remoção e o transporte compulsório de pessoas em situação de rua para abrigos e zeladorias.

A Corte também proibiu o emprego de técnicas de “arquitetura hostil”, como gradeamento de praças ou barras em bancos, pedras pontiagudas em espaços públicos.

A decisão deu prazo de 120 dias para que o governo federal elaborasse a implementação do plano ‘Política Nacional para População de Rua’, com medidas que “respeitassem as especificidades dos diferentes grupos familiares e evitassem sua separação”. Ocorre que, salvo engano, o governo federal não cumpriu a decisão e o plano, ao menos de forma visível, não foi elaborado.


“Novo normal”

Cantado em verso e prosa durante o pico da Covid, o “novo normal” alardeava um mundo revolucionariamente inclusivo e acolhedor. Mas nada aconteceu. O velho normal seguiu prevalecendo e, na prática, os invisíveis e vulneráveis continuaram em cada esquina.

Campos, pelos motivos citados, tem a obrigação, no mínimo, de tentar, tentar e tentar de novo. Às autoridades cabe montar equipes multidisciplinares de assistentes sociais, psicólogos etc. senão para resolver, ao menos amenizar.

Como se vê na imagem, a triste tragédia humana que a maioria vira o rosto e finge não ver o que está ali, um palmo à frente da face.