(Foto: Ralph Braz | Pense Diferente) |
“Valei-me, São José”. A invocação a um dos santos mais importantes da igreja católica deu nome a uma campanha para compra de um terreno e a posterior construção do templo do patrono do bairro Água Santa, em São João da Barra. Tudo parecia muito tranquilo, desde 2015, embora o dinheiro arrecadado jamais tenha se convertido em um palmo de terra para o livro de bens da paróquia São João Batista, responsável pela área. O pároco nessa época era Marcos Paulo Pinalli da Costa. E algumas polêmicas, na verdade, marcaram sua passagem por SJB. Mas nada que chegasse perto da acusação que vem de pessoas já que foram de sua confiança no rebanho: o dinheiro que fiéis doaram para o futuro templo de São José foi desviado para outras finalidades.
A revelação foi feita na igreja matriz de São João Batista, após a missa do último domingo (3), por uma comissão que o próprio Pinalli havia nomeado no passado. O padre relata que teve autorização do bispo para tirar o dinheiro doado para obra da igreja de São José e usar para outros custeios da paróquia. A denúncia chegou ao Ministério Público de SJB e já foi enviado para Promotoria de Tutela Coletiva em Campos. Até esta quinta-feira (7) ainda não havia sido distribuído. Mas o MP vai ouvir o padre e o bispo diocesano, Roberto Francisco Ferrería Paz, além de analisar o Código de Direito Canônico.
Segundo a comissão, durante muito tempo não foi possível saber o valor arrecadado na campanha. Pinalli não é mais pároco da sede do município, está à frente da quase-paróquia Santo Amaro, em Grussaí. Ainda de acordo com a comissão, somente este ano o antigo pároco revelou que a campanha arrecadou R$ 45.830,00: “Depois de diversos contatos e buscas, a Comissão descobriu que, do valor arrecadado, Pinalli utilizou indevidamente R$ 34.584,56, importâncias essas que o próprio padre justificou como gastas em manutenção de carro, seguros, viagens, impostos, telefone, doação à Mitra, etc, segundo documento assinado pelo próprio padre e uma outra suposta equipe que ele nomeou em Grussaí”, informou a comissão.
O objetivo da comissão, que já teria conversado com o bispo e o padre, seria ter de volta todo dinheiro arrecadado para uso na finalidade inicial da campanha, que é a aquisição do terreno, orçado em cerca de R$ 80 mil, para construção da capela de São José. “Depois do novo acordo para a devolução do dinheiro, o padre foi pra rua contactar diversos católicos e contribuintes para a sua confissão de dívidas e pedir o perdão da sua proposital irresponsabilidade”, diz a carta da comissão, que na última semana levou a denúncia ao Ministério Público.
O promotor estadual Marcelo Lessa recebeu a denúncia da comissão. Em SJB, não há promotoria de Tutela Coletiva e o caso foi encaminhada para Campos. Ainda não houve distribuição, mas o caso pode cair até mesmo com Marcelo, que atua nessa área. O promotor explica qual seriam os próximos passos:
—Provavelmente será instaurado inquérito e apurado o fato. Pelo que li, o padre foi autorizado a fazer o que fez e não houve qualquer desvio em proveito próprio, mas da paróquia, inclusive com previsão no Código de Direito Canônico. Chegando na Tutela será distribuído, podendo cair para mim mesmo. Ouvirei o padre e o bispo, bem como analisarei o Código Canônico, para ver se agiram dentro do que previa suas regras como gestores. Muito precoce para emitir qualquer juízo de valor.
Padre diz que houve autorização para gastos
O blog tentou contato por telefone com o padre Pinalli, mas não conseguiu. Em entrevista recente, ao canal no YouTube TVB (aqui), ele disse que o projeto de construção da igreja ficou inviável devido ao período de crise nacional, que também afetou a arrecadação de dízimo. Foi nesse momento, segundo o padre, que houve necessidade de utilizar o recurso da campanha para manter em dia os gastos da paróquia. Ainda de acordo com o padre, o bispo deu autorização para as medidas. Ele ainda fez questão de enfatizar que a antiga comissão recebeu a prestação de contas e que no documento consta como os recursos foram utilizados. “Foi feita prestação de contas com essa ex-comissão. Mas que deixe bem claro, a gente leva fama que roubou. Não, eu sou administrador, não roubei. Não foi para mim, foi para manter a própria paróquia”.
Diocese informa que fato foi esclarecido em reuniões
DivulgaçãoO bispo da Diocese de Campos, dom Roberto Francisco Ferrería Paz, informou, em nota, “que uma comissão paroquial foi formada pelo Pe. Marcos Paulo Pinalli, com a missão de comprar um terreno para a construção de uma capela, na cidade de São João da Barra, mas diante da crise financeira a meta não foi alcançada. O dinheiro foi colocado em uma conta da paróquia. Quando findou o propósito da comissão, o Pe. Marcos Pinalli, consultou o Conselho de Assuntos Econômicos da Paróquia, como prevê o Código de Direito Canônico, o documento diz que: ‘Em cada paróquia, haja o conselho econômico, que se rege pelo direito universal e pelas normas dadas pelo Bispo diocesano; nele os fiéis, escolhidos de Gestão eclesial — tarefas, responsabilidades e práticas de acordo com essas normas, ajudam o pároco na administração dos bens da paróquia, salvo a prescrição do cân. 532’. O padre investiu o recurso para acertar corresponsabilidades financeiras com a Mitra Diocesana, além de pagamentos de impostos (sociais e funcionários) e outras necessidades pastorais, como manutenção do carro da paróquia. No decorrer deste ano, foram realizadas duas reuniões com a comissão, sendo a primeira com o bispo diocesano na residência episcopal. A segunda foi na sede da Mitra Diocesana, quando o economato diocesano ofereceu esclarecimentos sobre o recurso, junto com o bispo e o sacerdote e novamente os membros da comissão”.
Fonte: Blog do Arnaldo Neto