sábado, 22 de fevereiro de 2025

Atafona pede socorro em ato neste domingo

Foto: Ralph Braz | Pense Diferente

No passar dos anos, moradores e veranistas veem as marcas da força da natureza causada pelo mar na praia de Atafona, em São João da Barra. Em meio às ruinas causadas pela erosão costeiras, a área urbana vem sendo tomada pelo mar e aos poucos deixando rastros de destruição. Neste domingo, às 9h, a Associação SOS Atafona realizará uma manifestação com o objetivo de chamar a atenção de autoridades e da população para a situação da erosão. Na tentativa de conter os impactos causados pela erosão, a Prefeitura publicou uma licitação para a contratação de um estudo para a viabilidade da contenção do mar.



O protesto será realizado na pracinha de Atafona. “Nós estamos batalhando para que as coisas tenham mais celeridade e sejam mais rápidas, porque o mar de Atafona não está esperando é destruição em cima de destruição. Então, essa licitação já é uma vitória. Gostaríamos que houvesse uma união mais forte entre o governo federal e estadual com o município. Outra pauta é em relação a casa dos pescadores que moravam no Pontal de Atafona. Em 2021 eles perderam a casa e ficaram no aluguel social com a promessa que teriam casas para eles, isso já tem 4 anos e até agora nada. No nosso manifesto não queremos bater de frente com a prefeitura, não é uma luta de briga e sim de paz. É um manifesto mais com muita vontade que tudo dê certo”, ressaltou a presidente da SOS Atafona, Sônia Ferreira.

Foto: Ralph Braz | Pense Diferente

Moradora do balneário há 28 anos, conta que é difícil ver os moradores perdendo seus imóveis. “Eu perdi minha casa, é uma coisa muito triste e tenho visto muitos amigos nessa mesma situação, é muito doído. Tem um lado financeiro que é uma perda grande, mas tem um lado emocional que é muito pior e ver tudo por água abaixo. Eu estou com 80 anos, desde os 8 meses venho a Atafona. Já vivo aqui há 28 anos e não quero sair. Minha filha mora aqui, então vim para a casa dela e estou até hoje. Temos que ter muita força para poder superar tudo”, comentou.

A situação já se arrasta desde a década de 50, a primeira área a ser engolida foi a Ilha da Convivência. A Avenida Beira Mar também já foi engolida pelas águas e, junto com ela, mais de 200 casas, cerca de 14 quarteirões, sumiram. O geólogo Eduardo Bulhões explica que a erosão é um problema antigo e complexo, com a atuação de inúmeros fatos que colaboraram para esse desequilíbrio.

Foto: Ralph Braz | Pense Diferente

“A erosão costeira é o resultado de um desequilíbrio que gera um déficit de areias em um segmento da praia. Atualmente o segmento em déficit em Atafona é de aproximados 2km. Esse é um problema complexo com causas que incluem a redução do volume de areias trazidas pelo rio Paraíba do Sul, a ação de ondas, ventos e marés, os eventos de El Niño e La Niña que aceleram alguns desses fatores. Tudo isso, ao longo dos 50 ou 60 anos, gerou impactos. A erosão costeira em Atafona é crônica, pois tem sido incessante por algumas décadas e extrema, pois as taxas são elevadas, chegam a 6 metros por ano”, explicou Bulhões.

A longo prazo, Eduardo esclarece que não há indícios que o fenômeno vá parar por si só e futuramente o cenário é de mais perdas. O geólogo diz ainda que o processo licitatório é um bom caminho para encontrar uma alternativa. “Não há nenhum indício que o fenômeno vá parar ‘naturalmente’ nas próximas décadas e com isso, o cenário é de mais perdas e prejuízos econômicos. A licitação visa contratar uma empresa, ou um consórcio de empresas, para realizar um Estudo de Viabilidade Técnica Econômica e Ambiental. O produto final é entregar quais alternativas mais viáveis, quanto custa e qual o custo de manutenção e os impactos. Mas, esse caminho é longo e não é simples, mas é realmente necessário”, finalizou.