O Plano Municipal de Mobilidade Urbana (PlanMob) aponta que a bicicleta como utilizada como meio de transporte por 10 mil pessoas na cidade. Mas quem são essas pessoas? Essa pergunta está perto de começar a ser respondida. Daqui a duas semanas, 60 voluntários vão dar início a um levantamento que vai indicar o Perfil do Ciclista 2021, uma pesquisa que vai acontecer em mais de 50 municípios do país e também em Petrópolis.
Esse levantamento é coordenado por aqui pela Associação dos Ciclistas de Petrópolis (Acipe), que cadastrou os voluntários até a última semana. Parte desses voluntários vai fazer entrevistas com os ciclistas durante um mês, outros serão responsáveis por sistematizar todas as informações e ainda terá um grupo fará toda a organização do estudo.
O objetivo é entrevistar pelo menos 654 pessoas que usam a bicicleta como meio de transporte pelo menos uma vez por semana - um número bem maior do que a principal pesquisa já feita pela Acipe.
"Em 2019, fizemos um projeto Mapa do Ciclismo, que tinha um objetivo parecido, e conseguimos coletar o perfil de 373 ciclistas da cidade. A partir das respostas, pudemos entender os comportamentos e as necessidades dos ciclistas. As análises a partir dos dados obtidos foram muito impressionantes e nos ajudaram a desmistificar muitas questões relacionadas ao ciclismo que eram divulgadas por aqueles que não pedalam, como a ideia de que Petrópolis é uma cidade desfavorável ao uso da bicicleta. Dados assim são riquíssimos, não só para a Associação em si, como para o próprio município para suas tomadas de decisão", considera a presidente da Acipe, Isabella Guedes.
Apesar de a pesquisa ser feita em âmbito nacional, os dados apurados por aqui também terão importância local, porque vão servir para a criação de um Plano Diretor Cicloviário para Petrópolis. Por isso, esse estudo tem o apoio também da Companhia Petropolitana de Trânsito e Transportes (CPTrans).
"A CPTrans incentiva a pesquisa, porque tem incentivado os meios de transporte alternativos, como a bicicleta. Porque eles são alternativa para reduzir o volume de veículos no dia a dia no trânsito, especialmente no Centro da cidade. O uso da bicicleta, de veículos movidos a eletricidade de pequeno porte, porque eles não são apenas uma forma de esvaziar o tráfego na cidade, como também uma forma limpa de locomoção, que não gera poluentes como os veículos de combustão", destaca Victor Ornelas, diretor técnico operacional da CPTrans, que tem participado dos debates na Câmara de Vereadores, na comissão especial voltada para a ciclomobilidade.
Avanços nos últimos anos
Do Mapa do Ciclismo para cá, o município já avançou em políticas para quem usa a bicicleta, tanto como forma de transporte quanto para a prática esportiva e de lazer: um trecho de cinco quilômetros de ruas do Centro Histórico foi demarcado como Ciclorrota, o Parque Municipal de Itaipava ganhou uma pista de Pump Track pública e o petropolitano Henrique Avancini, que conquistou o topo do mundo no mountain bike, ajudou a trazer algumas das principais competições do esporte para a cidade - como uma etapa da Copa do Mundo da modalidade, que será realizada em Petrópolis no ano que vem. Conquistas que, na avaliação da presidente da Acipe, poderiam ser mais rápidas.
"Esse espaço tem se ampliado, sem dúvidas. Além de a bicicleta ter se fortalecido cada vez mais como meio de transporte, muitas vezes influenciado por outras cidades brasileiras e do mundo e, recentemente, pela pandemia, Petrópolis pode ser considerada o berço de muitos ciclistas de elite em diversas modalidades. Isso com certeza chama a atenção para a questão. Porém, esta ampliação de espaço tem ocorrido de forma ainda muito lenta. Por exemplo, muitas cidades implementaram ciclofaixas temporárias durante a pandemia para incentivar o uso da bicicleta, mas infelizmente não tivemos ações assim aqui. Ainda é preciso a mudança de muitos paradigmas para melhorar a segurança do ciclista, independente de sua modalidade", avalia Isabella.
Esse temor citado pela presidente da Acipe não é para menos: o diagnóstico do Plano Municipal de Mobilidade Urbana mostra que foram registrados 32 acidentes envolvendo bicicletas no ano de 2017. Há quase dois anos, um ciclista morreu atropelado na Av. Barão do Rio Branco quando tentou desviar de um carro estacionado de forma irregular na ciclofaixa.
"Do ponto de vista de muitos motoristas, ciclistas são quase invisíveis. Consequências dessa invisibilidade são alegações de que Petrópolis não é uma cidade propícia ao uso da bicicleta, não há a preocupação com infraestruturas funcionais para facilitar e incentivar o transporte por bicicleta e também o aumento do risco de acidentes, visto que muitos motoristas ainda acreditam que a bicicleta é apenas um objeto de lazer. Muitos não sabem que a bicicleta é um veículo e que tem prioridade sobre os motorizados nas vias urbanas quando não houver ciclovias e ciclofaixas", analisa a presidente da Acipe.
As entrevistas vão ocorrer de forma presencial em diferentes pontos da cidade. A Acipe garante que vai seguir protocolos sanitários, como distanciamento, uso de máscara e higienização com álcool em gel para a segurança dos voluntários e dos entrevistados. A pesquisa é curta e a Associação pede que as pessoas que usam bicicleta participem do levantamento. A pesquisa é coordenada em nível nacional pelas organizações Transporte Ativo, LabMob e Observatório das Metrópoles.
Fonte: O Diário