sexta-feira, 17 de março de 2023

“A Petrópolis do Museu Imperial”


A exibição retrata a cidade de Petrópolis nas décadas de 1930 e 1940, contexto da criação do Museu Imperial e período de transformações e acontecimentos locais diretamente ligados a fatos ocorridos no país e no mundo.

Alessandra Fraguas, historiadora; Ana Luísa Camargo, museóloga; e Claudia Costa, coordenadora técnica, – integrantes da equipe técnica do Museu Imperial – são as responsáveis pela curadoria da mostra. Elas selecionaram diversos itens do acervo do Museu Imperial e peças cedidas por acervos particulares para reconstituir parte da história de Petrópolis, retornando a importante ocasião das comemorações do centenário da cidade, marcado pela divergência entre manter a “tradição” do período imperial ou seguir para os “tempos modernos”.

A Petrópolis do Museu Imperial permite conhecer o passado da cidade que pretendia se modernizar, mas permanecia atada ao legado do período imperial. Uma visão compreendida pela importância da preservação da memória local, englobando três importantes perspectivas: o contexto sociopolítico, as transformações urbanísticas e a vida sociocultural. Além de proporcionar uma aproximação a momentos vividos na cidade, como as articulações que resultaram na inauguração do Museu Imperial; as transições arquitetônicas; o ponto em que o turismo se torna um impulso para economia; as influências; os festejos e até as aflições sociais geradas por circunstâncias políticas.


Os cenários da exposição contarão com imagens e objetos-ícones que dialogam entre si. Por meio de peças, fotografias, exibição de documentos, recursos sonoros e audiovisuais, será possível uma viagem no tempo, possibilitando uma reflexão sobre a conjuntura da época.

“O Museu Imperial e a Prefeitura Municipal de Petrópolis renovam a parceria inaugurada nos anos 1930-1940, quando o Museu Histórico de Petrópolis foi extinto e todo o seu acervo transferido para a recém-criada instituição [Museu Imperial], refazem parte desse cenário e convidam todos os visitantes para conhecerem esses ‘tempos modernos’, suas luzes, suas lutas, suas dores, suas alegrias e suas esperanças.”, declaram as curadoras.


O contexto

Chegando ao período que Petrópolis completaria 100 anos de sua criação, bem como o projeto de construção do palácio que serviu de residência de verão da família imperial, inicia-se uma grande mobilização para as comemorações do centenário da cidade.

Em 1937, por um ato do prefeito Yeddo Fiúza, foi criada a “Comissão do Centenário de Petrópolis”, encarregada de produzir pesquisas para resgatar a memória da cidade desde sua fundação. Após debates, mantiveram a memória de d. Pedro I e determinaram a data para as comemorações observando a fundação de Petrópolis estabelecida pelo imperador por meio do Decreto Imperial n.º 155, de 16 de março de 1843.


O cenário também foi favorável para o encontro de duas trajetórias políticas: a de Alcindo Sodré, que se tornaria o primeiro diretor do Museu Imperial, e a de Getúlio Vargas, presidente da República em seu primeiro governo (1930-1945). A união resultou na compra do Palácio Imperial, na instituição do Museu Imperial e na sua abertura ao público na mesma data das comemorações do município: 16 de março de 1943.

Enquanto Petrópolis buscava resgatar a tradição do período imperial, um grande impulso para o que chamavam de “modernização” da cidade era iniciado. Momento de mudanças, caracterizado pela reforma urbanística que terminou com a demolição de edificações históricas e a construção de novos prédios, muitos deles representantes do auge do estilo arquitetônico Art déco, no Brasil.


A partir de 1930, surgiam os primeiros “arranha-céus” indicando o início de “Tempos Modernos” – termo utilizado como uma referência ao filme de Charlie Chaplin, estreado no Theatro D. Pedro, inaugurado em 1933, também um belo exemplar da arquitetura Art déco em Petrópolis. Assim como o edifício Centenário, localizado na rua Dezesseis de Março, inicialmente chamada rua do Centenário, inaugurada na ocasião e um símbolo das comemorações. Estima-se que, até 1947, cerca de três mil edifícios foram construídos.

A entrada da Cidade Imperial nos “Tempos Modernos” era notada na arquitetura, na propagação de produções cinematográficas, no pioneirismo de produção radiofônica e na mudança de cidade de vilegiatura da Corte para um local com o turismo como impulsionador da economia. A construção do grandioso Hotel-Cassino Quitandinha, projetado para ser o maior da América Latina, é um representante do processo.


Anos antes do início da Segunda Guerra Mundial, Petrópolis encontrava-se notável no contexto nacional e vivenciava um grande processo de mobilização da sociedade, protagonizando uma grande greve, com dimensões por toda a cidade, paralisando cerca de 20 fábricas e com a adesão de 15 mil trabalhadores. O movimento social surgiu da luta dos operários do campo democrático contra os fascismos.

No mesmo enquadramento, encontra-se a colaboração do austríaco Stefan Zweig. Em exílio no Brasil e encantado com o país e com a cidade de Petrópolis, escreveu “Brasil, País do Futuro”, em 1941, livro que enaltece o entusiasmo e a grandeza proporcionados por um povo resiliente que se constitui, em sua essência, pela diversidade.