segunda-feira, 4 de maio de 2015

AIDS EM CRESCIMENTO NO NORTE E NOROESTE FLUMINENSE

(Foto: Ralph Braz)
Um levantamento da secretaria estadual de Saúde (SES) apontou que os casos de Aids estão crescendo em municípios do Norte Fluminense, ao contrário do que ocorre na Região Metropolitana do Rio, onde a tendência é de queda. Outro dado preocupante do órgão é em relação ao panorama do vírus HIV em território fluminense: quase um terço dos pacientes é diagnosticado já em estágio avançado. Em Campos, o Centro de Doenças Infecciosas e Parasitárias (CDIP) destacou que, de 2013 para 2014 houve um aumento de cerca de 40% de casos de Aids. O órgão está localizado a rua 1º de Maio, no Centro, e atende a pacientes para fazer testagem do vírus HIV de diversos municípios da região — São Fidélis, São João da Barra, São Francisco de Itabapoana e Cardoso Moreira, entre outros.

O Diretor de Vigilância em Saúde, Charbell Kury, atribuiu esse número alarmante nas cidades do Norte/Noroeste à migração populacional. Segundo ele, cidades como Macaé e Quissamã praticamente dobraram o número da população nos últimos anos. Outro motivo, de acordo com o diretor, seriam as atividades portuárias na região, que atraíram trabalhadores de diversas cidades do país. 

— Na tentativa de reverter essa situação, o programa do Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) Itinerante leva o teste rápido de HIV a várias localidades e distritos de Campos. Em qualquer evento que a secretaria de Saúde realiza, levamos também o teste rápido, que é praticamente 100% confiável. Nele, nós encaminhamos a pessoa que quer ser submetida ao teste a uma sala confidencial e realizamos todos os procedimentos. O resultado sai em 15 minutos — declarou o diretor.

Charbell Kury ressaltou também que a estrutura do programa conta também com uma equipe multidisciplinar para fazer o acompanhamento do paciente, caso o resultado tenha dado positivo. A equipe é formada por infectologistas, clínicos, ginecologistas, oftalmologistas, dermatologistas, nutricionistas, psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros, técnicos de enfermagem, farmacêuticos, técnicos de laboratório e pessoal administrativo.

Casa para dar apoio foi criada há 27 anos

“Aqui a dor é combatida pela compaixão. A alma se enche de esperança e os abraços são entrelaçados com amor. Descobrimos que o antídoto contra o HIV é a solidariedade, este coquetel de acolhimento feito de amor, alegria, otimismo, esperança, harmonia e paz!”. Com essas palavras, a presidente da Associação Irmãos da Solidariedade, Fátima Castro, define os 27 anos da casa que hoje abriga 42 pessoas e assiste a mais de 100, com apoio dos governos municipal e federal, e ainda recebe doações da comunidade e empresas.

Segundo Fátima Castro, tudo começou quando uma amiga, portadora do vírus do HIV, bateu à sua porta, pedindo por ajuda. Desde então, em meio a críticas e preconceitos, foram anos de luta para que a sociedade pudesse aceitar essas pessoas, sem inserção de violência.

A Associação, localizada na Rua Santo Antônio, no Jardim Carioca, em Guarus, é dividida em duas partes: uma casa, com sala, dois banheiros e cinco quartos e outra parte com duas enfermarias, salão de beleza, sala de orações, fisioterapia, farmácia, setor de odontologia, dentre outros, e aos fundos, refeitório, dispensa, lavanderia, espaço para artesanato e costura. “Infelizmente, as campanhas para o uso do preservativo são visadas apenas no Carnaval e em dezembro, onde é lembrado o dia de combate à doença. Falta uma política pública voltada para o caso, e sendo direcionada principalmente aos jovens, aonde a maioria chega a não se preocupar com a doença, já que pode controlá-la com um ‘remedinho’, como eles mesmos afirmam”, declarou Fátima Castro.

Demora para procurar exame é preocupação

Segundo o superintendente da Vigilância Epidemiológica e Ambiental da SES, Alexandre Chieppe, há muitos casos em que a testagem só é feita quando a pessoa já apresenta sintomas, como problemas no sistema imunológico, e procura o hospital. “Ainda há muito estigma e preconceito em torno da Aids, por isso muitas pessoas relutam em fazer o teste”, aponta, acrescentando que, em alguns casos, o paciente não percebe que se expôs ao risco de contração do HIV e, por isso, não procura o teste.

Chieppe reconhece que o diagnóstico ainda não acontece no tempo apropriado e que isso influencia na taxa de mortalidade da Aids. Dados mostram que o número de mortes pela doença não caem, apesar do avanço nos tratamentos. Em 2012, foram 1.778 mortes no estado, contra 1.664 em 2000.

Segundo o superintendente, há muitos casos em que a testagem só é feita quando a pessoa já apresenta sintomas, como problemas no sistema imunológico, e procura o hospital. “Ainda há muito estigma e preconceito em torno da Aids, por isso muitas pessoas relutam em fazer o teste”, aponta.

Na Região Metropolitana, os casos de Aids no ano 2000 eram 3.482 e em 2012, 1.974 casos. Já na Região Norte do Estado do Rio os números em 2000 apontavam para 119 e 147 em 2012, segundo a SES.




Fonte: Folha da Manhã