segunda-feira, 2 de março de 2015

“CIDADANIA NÃO ACABA NO VOTO”

(Foto: Ralph Braz)
Defender o bem para a sociedade seja ele em qual área for, até mesmo na política. Essa é uma das bandeiras levantadas pela Campanha da Fraternidade de 2015, da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cujo tema é: “Fraternidade: Igreja e Sociedade”. Para o Dom Roberto Francisco Ferrería Paz, bispo da Diocese de Campos, a Campanha vem para somar no sentido de uma visão de cidadania mais ampla e também no sentido de ser solidária à reforma política, principalmente no que diz respeito ao fim do financiamento de campanhas por empresas privadas. Já para Dom Fernando Arêas Rifan, bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney, a Igreja não entra na questão política partidária, mas está inserida na sociedade defendendo os verdadeiros valores que coincidem com as virtudes cristãs.


Segundo Ferrería, a última eleição presidencial gerou uma divisão no país e deixou uma fala “raivosa” na população. “Quem acompanha a internet e a mídia de forma geral, vê uma fala raivosa entre as pessoas e a Igreja poderá modificar isso, preservando o estado laico de direito”, comentou. O bispo também comentou sobre os escândalos que envolvem a Petrobras e o governo Dilma. “Os escândalos devem ser investigados e a população precisa compreender que a cidadania não acaba no voto. O cidadão deve se manifestar de forma democrática. Temos que levar a cidadania participativa que constrói”, acrescentou ao ressaltar que o Brasil precisa de uma oposição mais democrática.


Dom Fernando Rifan também defendeu a laicidade do estado. Para ele, a Igreja tem sua posição própria. “Nosso discurso não entra na questão política partidária. Estamos inseridos na sociedade defendendo verdadeiros valores que coincidem com as virtudes cristãs. Jesus disse ‘vós sois o sal da terra e a luz do mundo’. A questão da política e de sua reforma é um pouco discutível, mas nem todos estão aderindo a isso”, disse.


No texto da CNBB, os bispos defendem que a igreja faça parte de uma coalização pela reforma, que deveria prever mudanças nas regras eleitorais e o fortalecimento da democracia representativa, por meio de mecanismos constitucionais como o plebiscito. Ao defender o fim da doação eleitoral por pessoas jurídicas, a entidade quer que seja possível apenas a doação de pessoas físicas. Além disso, os religiosos se debruçaram sobre o tema da representação feminina no Congresso Nacional e expressaram a necessidade da alternância de homens e mulheres na lista de candidatos dos partidos.


Senado prevê início de votação da mudança


O Senado começará a votar propostas de mudanças no sistema político a partir desta semana. O presidente do Senado, Renan Calheiros, adiantou na quarta-feira passada, alguns pontos que serão colocados imediatamente em votação, como a desincompatibilização dos cargos do Executivo para se candidatarem à reeleição e o fim

do voto proporcional para vereadores e deputados em cidades com mais de 200 mil habitantes.

A decisão foi tomada durante reunião de líderes e anunciada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, um dia após a Casa promover uma sessão temática sobre a reforma política.

— Nós acertamos que vamos votar na próxima semana a reforma política. Eu vou receber as indicações dos partidos, mas desde logo nós vamos votar a descompatibilização de cargos do executivo para disputar reeleição. É uma medida importante, profilática. Nós vamos votar o fim das coligações proporcionais. E nós vamos apreciar rapidamente o voto majoritário nas eleições municipais nos municípios acima de 200 mil habitantes — listou.

O presidente do Senado observou que não há consenso sobre os temas, mas enfatizou que é importante dar o primeiro passo e iniciar as votações das propostas.

— Quando não há consenso, o Parlamento delibera, vota. Se nós não reformarmos a política, nós seremos todos reformados — disse Renan Calheiros.

Ele lembrou que o Senado aprovou há mais de uma década uma reforma política profunda que, incluía desde voto facultativo até definições claras sobre financiamento de campanhas, mas que “a proposta não andou na Câmara”.

Foco na elaboração de políticas públicas

Na abertura da Campanha da Fraternidade, realizada no dia 18 de fevereiro, o secretário da CNBB, Dom Leonardo Steiner, destacou que, este ano, as Arquidioceses pretendem aumentar a participação na elaboração de políticas públicas
— O objetivo é contribuir à luz do evangelho com o aprofundamento do diálogo e a colaboração entre a igreja e a sociedade, respeitando a laicidade do Estado e a autonomia das autoridades terrenas. A Igreja quer encontrar uma forma para contribuir na vida social e assumir evangelicamente as tarefas prioritárias que contribuem para a dignidade humana. Essa não é uma tarefa exclusiva das instituições, todo mundo deve fazer a sua parte — comentou Steiner.

Ainda durante a cerimônia, o Ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, ressaltou que a política deve emergir como um serviço à sociedade, a fim de trabalhar principalmente pelo fim da pobreza e também pela garantia da saúde e da educação. “Com o compromisso da emancipação dos pobres, queremos o desenvolvimento das famílias e das comunidades tradicionais. Queremos que as pessoas sejam protagonistas da sua história. Devemos avançar para uma nova compreensão da política, e é aí que entra a democracia participativa”, declarou.


Já o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Marcus Vinícius Furtado, criticou o sistema eleitoral vigente no país.
A Campanha da Fraternidade ocorre há 51 anos, e sempre começa na quarta-feira de Cinzas, que marca o início do período da Quaresma para a Igreja Católica, e termina no domingo de Páscoa.




Fonte: Folha da Manhã