sexta-feira, 19 de dezembro de 2025

Praias de SJB correm risco de desaparecer com avanço do mar, do descaso político e da erosão costeira

Atafona - Foto: Ralph Braz | Pense Diferente 

A Praia do Açu, em São João da Barra, no Norte Fluminense, vive um cenário cada vez mais semelhante ao que ocorreu em Atafona, onde o avanço do mar provocou a destruição de ruas, imóveis e equipamentos urbanos ao longo dos anos. Mantido o ritmo atual de erosão costeira, a localidade de Barra do Açu corre o risco de desaparecer, deixando centenas de famílias sem moradia e sem qualquer garantia de medidas compensatórias.

Há mais de uma década, estudos técnicos e reportagens alertam para o processo de erosão que consome a faixa de areia da região. O fenômeno, segundo registros, foi previsto nos estudos de impacto ambiental utilizados pela OSX para obtenção das licenças necessárias à instalação da unidade de construção naval do Porto do Açu. Ainda assim, as advertências não resultaram em ações efetivas por parte do poder público ou dos gestores do empreendimento.


De acordo com análises já divulgadas, estruturas perpendiculares à linha da costa teriam alterado a dinâmica natural das correntes marítimas, intensificando a perda de sedimentos. Mesmo diante de registros fotográficos, vídeos e documentos científicos, o Porto do Açu, atualmente administrado pela Prumo Logística Global, é acusado de ignorar os efeitos de suas intervenções na região. A atuação considerada passiva do Instituto Estadual do Ambiente também é apontada como fator de agravamento do problema.

Moradores relatam momentos de tensão constantes. Em um dos trechos mais críticos, a força das ondas eliminou o que restava da faixa de areia, aproximando o mar de residências e estabelecimentos comerciais. Para muitos, a sensação é de abandono. Como relatado, “a inércia tanto dos gestores do porto como das autoridades governamentais deixa os moradores ao Deus dará”, sem debate sobre indenizações, reassentamento ou obras de contenção.

As soluções de engenharia costeira existem e são amplamente conhecidas, mas dependem de vontade política e do cumprimento das condicionantes ambientais estabelecidas no licenciamento do empreendimento. Especialistas alertam que, sem intervenção urgente, o processo erosivo tende a se intensificar nos próximos anos.

Praia do Açu

ATAFONA

Pontal de Atafona nunca é o mesmo. A cada verão, o cenário da localidade, nascida na foz do Rio Paraíba do Sul, se transforma de forma dramática. O que já foi ilha virou península. Quarteirões inteiros, antes repletos de casas de veraneio, bares e restaurantes, desapareceram sob a fúria das ondas. Ruas onde se caminhava em um verão simplesmente deixam de existir no seguinte.

Esse cenário em constante mutação — que, apesar de tudo, guarda seus encantos — dificulta profundamente a vida de quem mora ali. A praia de Atafona, balneário de São João da Barra, é um dos pontos do litoral brasileiro que mais sofrem com o avanço contínuo do mar. Nas últimas décadas, a força das marés contra o continente engoliu mais de 400 casas e quarteirões inteiros, redesenhando o mapa da localidade. Um edifício ruiu diante das câmeras. Famílias que construíram ali sua história foram obrigadas a recomeçar em outras áreas do município.

Pesquisas científicas apontam diversas possíveis causas. Entre elas, o avanço natural do mar em um mundo onde os alertas das mudanças climáticas já são realidade. Outra hipótese é a redução do volume de água do Rio Paraíba do Sul — sobretudo após o desvio do Rio Guandu, um de seus afluentes, para abastecer a cidade do Rio de Janeiro. Com menos água, o velho Paraíba teria perdido força para enfrentar o oceano.