Uma Grata Surpresa em Alexandria
No dia 1.º de novembro, tive uma grata surpresa ao visitar a nova Biblioteca de Alexandria (Bibliotheca Alexandrina), no Egito. Ao percorrer suas salas, fui surpreendido ao ver exposta a fotografia que ilustra este artigo.
Nela, temos Dom Pedro II e a Imperatriz Teresa Cristina diante das pirâmides e da Esfinge de Gizé, acompanhados de membros da comitiva imperial e de guias egípcios, em registro feito em 1876, durante a segunda viagem do Imperador do Brasil ao Egito.
Ao lado da imagem, encontra-se o seguinte texto, em árabe e inglês, que traduzo abaixo para o português:
“Autor: J. Pascal Sébah
Imperador e Imperatriz do Brasil nas pirâmides
Dentro do grupo ‘Retorno ao Egito’, que documenta a segunda visita do imperador Dom Pedro II, imperador do Brasil, ao Egito em 1876, quando ele navegou pelo Nilo rumo ao sul e registrou suas anotações, documentando tudo o que presenciou.
Deixando uma coleção única de imagens que oferecem uma visualização do Egito no século XIX.
Coleção de Arte da Bibliotheca Alexandrina.”
A fotografia é atribuída a J. Pascal Sébah, um renomado fotógrafo otomano de origem síria, especializado em cenas do Oriente Médio no século XIX.
A Nova Biblioteca e o Renascimento de um Símbolo do Saber
A nova Biblioteca de Alexandria foi inaugurada em 16 de outubro de 2002, próxima ao local onde existiu a lendária biblioteca da Antiguidade, destruída há mais de dois mil anos.
A antiga biblioteca, fundada por volta do século III a.C., durante o reinado de Ptolomeu I Sóter e consolidada por Ptolomeu II Filadelfo, abrigava entre 200 mil e 700 mil rolos de papiro, contendo obras de filosofia, matemática, astronomia, medicina, história e poesia do mundo antigo.
Ela foi incendiada durante o cerco de Júlio César, em 48 a.C., quando parte da frota egípcia foi queimada no porto e o fogo se espalhou para os armazéns que guardavam os manuscritos. Séculos depois, o que restava foi sendo perdido por novos conflitos, destruições e descuidos.
A Bibliotheca Alexandrina moderna renasce como um tributo àquele farol do conhecimento. Seu edifício monumental, voltado para o mar Mediterrâneo, foi concebido com arquitetura circular e inclinada, simbolizando o sol que nasce. Possui capacidade para até oito milhões de livros, distribuídos em sete níveis que se projetam em cascata, além de museus, planetário, centro de conferências e laboratórios digitais.
Dom Pedro II: O Imperador Viajante e o Egito de 1876
Dom Pedro II foi um dos monarcas mais cultos de seu tempo. Interessado por história, ciência, arqueologia e línguas, ele dominava mais de uma dezena delas, incluindo o árabe. Durante seu reinado, promoveu reformas educacionais e culturais no Brasil e incentivou a pesquisa científica.
Em suas viagens pelo mundo — América, Europa, Oriente Médio e Norte da África — o imperador registrava impressões em diários detalhados, muitos dos quais hoje fazem parte do acervo da UNESCO, reconhecidos no programa “Memória do Mundo”.
A primeira visita de Dom Pedro II ao Egito ocorreu em 1871, e a segunda, em 1876. Nesta última, retratada na fotografia com a legenda comentada mais acima, o monarca e a imperatriz navegaram pelo Nilo, visitando Luxor, Aswan, Karnak e as Pirâmides de Gizé. O imperador anotou observações minuciosas sobre templos, inscrições hieroglíficas e costumes locais, deixando registros valiosos que combinam curiosidade científica e sensibilidade poética.
Entre o Brasil e o Egito: Ecos de História e Memória
Encontrar, em pleno século XXI, a imagem de Dom Pedro II e Teresa Cristina na nova Biblioteca de Alexandria é algo que emociona. É como se o Brasil imperial e o Egito milenar se reencontrassem em torno da mesma vocação: a do saber, da curiosidade e do diálogo entre civilizações.
Naquela foto, sob o olhar sereno da Esfinge e à sombra da Grande Pirâmide de Quéfren, o imperador brasileiro repousa por um instante diante do símbolo mais antigo da eternidade humana — e, agora, sua imagem repousa diante das estantes luminosas da nova Bibliotheca Alexandrina, renascida das cinzas do passado.
Quéfren, filho de Quéops e faraó da IV Dinastia, mandou erguer a segunda maior pirâmide do planalto de Gizé, diante da qual se encontra a imponente Esfinge, esculpida na rocha e possivelmente com o seu próprio rosto. Ao seu redor, completam o conjunto monumental as pirâmides de seu pai, Quéops, e de seu filho, Miquerinos, que, lado a lado, formam o mais célebre e duradouro testemunho do poder e da grandiosidade do Egito Antigo.
Entre livros, pedras e memórias, deixo um cumprimento de paz — como fazem os povos do deserto e do Nilo, de ontem e de hoje.
“Salam aleikum”, que significa “Que a paz esteja com você” — uma saudação árabe tradicional, usada por muçulmanos e por diversos povos de origem árabe como uma forma respeitosa de cumprimentar e desejar paz ao próximo.

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