Sobreviventes da tragédia que atingiu a cidade há um ano se uniram em uma manifestação para lembrar as 235 vítimas que perderam a vida em consequência das chuvas. A concentração aconteceu na Praça da Inconfidência às 15 horas – horário aproximado do início do temporal que atingiu a cidade no dia 15 de fevereiro de 2022 – dia que a chuva deixou um rastro de destruição em pelo menos 26 bairros em poucas horas. Com cartazes e camisetas pretas – algumas com fotos de parentes que perderam a vida na tragédia - o grupo percorreu ruas do Centro e chegou à Câmara de Vereadores.
O movimento, liderado por moradores da Servidão Frei Leão, cobra respostas do poder público em relação à realização de obras, limpeza e recuperação de áreas atingidas, moradia e aluguel social. “Hoje é um dia muito difícil pra todos nós. O que estamos fazendo é uma manifestação pacífica em memória das pessoas que amamos e ao mesmo tempo um ato para cobrar respostas às autoridades. Um ano se passou e em muitos bairros, nada foi feito. Na Frei Leão, estamos nos sentido abandonados”, diz a moradora Cristiane Gross, que perdeu a filha de 19 anos, um neto de 4 anos e outros sete parentes no dia da tragédia.
Com um cartaz preto nas mãos, Adalto da Silva, de 51 anos, cobrava ao lado da filha Joyce – única filha sobrevivente - resposta em relação ao paradeiro do corpo do filho, Lucas Rufino, de 20 anos. No dia do temporal, Lucas saía de casa com Adalto, quando foi atingido pela avalanche de terra e pedras que desceu da parte alta do Morro da Oficina. Naquele dia Adalto perdeu também a esposa, Eliane e a filha Maria Clara, de 6 anos – ambas foram resgatadas e sepultadas. A família afirma que o corpo de Lucas foi encontrado no dia seguinte, mas no IML a informação é de que ele não foi identificado entre os corpos localizados. Muito emocionado, Adalto precisou ser amparado algumas vezes durante a manifestação.
Com uma camiseta com fotos da neta Maria Alice de 2 anos e do genro Nirley, de 32 – que morreram soterrados na Rua Frei Leão, Silvana Assis, compareceu ao ato acompanhada pelos netos sobreviventes, Miguel, de 4 anos e Thales, 9 anos. “Eles perderam o pai e a irmã... Estamos aqui hoje por eles e para reafirmar que precisamos de uma definição”, disse.
Aos 74 anos, Antônio Carlos Teixeira de Paula, que morava no Sargento Boening, tinha nas mãos um cartaz em lembrança aos parentes mortos. “Moro na Rua Carmem da Ponte Marcolino. Até hoje nem a limpeza do local foi feita, está tudo lá exatamente como no dia em que aconteceu a tragédia, nada foi feito neste um ano. Tem muitas pedras lá. Muita coisa pra descer, e isso nos deixa muito preocupados”, diz.
O grupo seguiu até a Câmara de Vereadores, onde foi feito um minuto de silêncio e orações. Os sobreviventes cobraram respostas aos representantes do Legislativo. Vereadores deixaram o plenário e desceram até as escadarias da entrada para ouvir as reivindicações.
De acordo com a Polícia Militar, cerca de 300 a 350 pessoas participaram do ato.
Após a conversa com os vereadores, o grupo seguiu para a Praça D. Pedro, onde um outro ato foi realizado com acendimento de velas em memória das vítimas. Uma missa também foi realizada na Igreja de Santo Antônio, no Alto da Serra – bairro que concentrou o maior número de mortes.