O Bradesco deverá enviar, ao Ministério Público, em um prazo de 10 dias, as imagens dos saques feitos “na boca do caixa”, das agências nas quais os prestadores de serviço do Ceperj sacaram dinheiro. A expectativa do MP é que os vídeos, que não terão edição, confirmem se os prestadores da lista foram as pessoas que sacaram o dinheiro nas agências, para o caso de eles negarem ser os beneficiários. Uma planilha obtida pelos promotores indica que, só este ano, a fundação emitiu 91.788 ordens de pagamento para 27.665 pessoas. Em um só dia, numa única agência de Campos dos Goytacazes, as retiradas ultrapassaram meio milhão de reais em espécie, precisamente R$ 538.450,47 em 13 de junho deste ano. As imagens já haviam sido requisitadas, mas o banco pediu um maior prazo para enviar aos investigadores. Nesta última quarta-feira (24), a juíza Roseli Nalin, da 15ª Vara de Fazenda Pública, determinou o compartilhamento dos documentos que integram a ação civil que investiga o Ceperj com a Procuradoria Regional Eleitoral do Rio de Janeiro, há indício de que dois mil candidatos, em eleições passadas, receberam na folha secreta.
O MPRJ investiga uma “lista secreta” de beneficiários do Ceperj, na qual prestadores de serviço recebiam suas remunerações por meio de saques bancários na “boca do caixa”. Procurado, o Ceperj afirma que “está em contato constante com o Ministério Público, cumprindo todos os pedidos apresentados pela instituição e dentro do prazo. A Fundação reforça que está à disposição dos órgãos de controle e judiciais.”
Os promotores ainda não receberam todos os documentos solicitados ao Ceperj sobre os programas da Fundação que são alvos de investigação. Em uma reunião há duas semanas, com a participação de um representante da Procuradoria-Geral do Estado e o atual presidente do Ceperj, Marcelo Domingues, ficou acordado que a Fundação envie aos promotores do Ministério Público todos os documentos até a próxima segunda-feira (22). Durante o encontro, técnicos do Ceperj concederam acesso aos processos eletrônicos aos promotores.
Eleições passadas
Um cruzamento de dados feito pelo Ministério Público do Rio com informações do Tribunal Superior Eleitoral mostra que 2.058 pessoas receberam ordens de pagamentos do Ceperj foram candidatos em eleições de 2000 a 2020. Na lista há candidaturas para vereadores, prefeitos, deputados e até suplência para o Senado Federal. Segundo os promotores do MPRJ, os pagamentos desse pessoal contratado, ocorria “na boca do caixa” de agências do Bradesco, somando um total de quase R$ 226,5 milhões em todo o estado.
Ao todo a 6ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva de Defesa da Cidadania do Rio encontrou 3443 candidaturas. O número é maior que de candidatos porque há pessoas que concorreram em mais de um pleito.
Desde 2000, os funcionários da lista secreta do Ceperj se candidataram 3 mil vezes para uma cadeira de vereador, 238 para a Assembleia Legislativa do Rio, 105 se candidataram para a Câmara de Deputados em Brasília e 2 tentaram ser eleitos como suplentes de senadores. Há ainda 42 candidaturas para prefeitos e 52 para vice-prefeitos.
Procurado o Ceperj afirmou que “as leis federal e estadual de inovação permitem que servidores atuem em projetos de prestação de serviços, desde que não haja incompatibilidade de horários ou prejuízo a qualquer das atividades. O contrato dos servidores com a Fundação Ceperj diz respeito a uma prestação de serviços, sem vínculo empregatício, portanto, não existe qualquer acumulação de cargos.” A Fundação afirma que as contratações estão suspensas e não há pagamentos sendo realizados.
Fonte: Extra