(Foto: Lucas Moritz / Alerj / Divulgação) |
Morreu na madrugada desta sexta-feira (14) o ex-deputado estadual Jorge Picciani, de 66 anos. Ele estava internado desde o dia 8 de abril no Hospital Vila Nova Star, em São Paulo, onde fazia um tratamento de câncer na bexiga.
Picciani foi presidente da Assembleia Legislativa do RJ (Alerj) por vários mandatos.
Foi aliado do ex-governador Sérgio Cabral e chegou a ser investigado pela Lava Jato, suspeito de corrupção.
Uma de suas características era a habilidade de negociar e conseguir votos. Em uma de suas eleições, conseguiu também eleger o filho, o ex-deputado estadual Rafael Picciani.
O atual presidente da Alerj, deputado André Ceciliano (PT), já ofereceu a Casa para o velório e disse que vai declarar luto oficial por três dias (veja abaixo a nota da Alerj).
O prefeito do Rio, Eduardo Paes, lamentou a morte do ex-deputado estadual, com quem manteve uma boa relação por muitos anos.
Carreira:
Jorge Picciani nasceu no dia 25 de março de 1955, em Mariópolis, no Rio de Janeiro. Era formado em contabilidade pela UERJ e em estatística pela Escola Nacional de Estatística.
Em 1990, Picciani conquistou o primeiro de seus seis mandatos como deputado estadual. Passou por todos os cargos importantes do Legislativo, até se eleger, por quatro mandatos consecutivos, presidente da Alerj (2003-2010). Em 2015, após ficar quatro anos afastado, voltou a ocupar o cargo.
Um dos seus projetos reduziu as férias dos parlamentares. Foi durante a sua gestão também que a lei proibindo o nepotismo foi aprovada – 3 anos antes de o STF estabelecer a não contratação de parentes como regra nacional. É de sua autoria ainda a lei que garantiu vagões exclusivos para mulheres na hora do rush em trens e no metrô do Rio.
Picciani criou também a Comissão de Ética da Alerj – que levou à cassação quatro deputados –, a TV Alerj, a Escola do Legislativo, o Fórum de Desenvolvimento do Estado e o Parlamento Juvenil.
Em 2010, disputou uma cadeira do Senado. Obteve 3.048.034 de votos e, por uma pequena diferença do segundo colocado (0,8%), não atingiu seu objetivo.
Entre 2011 e 2014, se dedicou à vida empresarial e presidiu o PMDB-RJ.
Candidato nas eleições de 2014 a deputado estadual, Picciani recebeu 76.590 votos. Foi a nona maior votação no Estado do Rio e a terceira do PMDB-RJ.
De volta à Alerj, reassumiu a presidência em 2015, com 65 dos 70 votos dos deputados estaduais. Seu primeiro ato foi propor um pacote de medidas de transparência e austeridade, entre eles a redução do auxílio-educação, que passou a ser estendida a alunos de escolas públicas.
Nos primeiros 20 anos como deputado, ele só se afastou uma vez do Legislativo: em 1993, foi convidado pelo então governador Leonel Brizola para assumir a Secretaria Estadual de Esportes e Lazer e a presidência da Suderj.
As missões eram recuperar o Maracanã, que havia sido interditado após a grade da arquibancada ceder, ferindo dezenas de torcedores no final do campeonato brasileiro, e reabrir o Macaranazinho, que também havia sido fechado após um acidente durante um show de rock que matou um jovem eletrocutado.
Picciani também era pecuarista e desde o início dos anos 90 se dedicava à reprodução assistida de gado.
Ele era casado com Hortência Oliveira Picciani desde 2014.
O ex-presidente da Alerj deixa cinco filhos: o ex-deputado federal Leonardo Picciani; o deputado estadual e ex-secretário municipal de Transportes do Rio, Rafael Picciani; o zootecnista e empresário Felipe Picciani; Arthur, de 10 anos, e o caçula Vicenzo.
Em uma rede social, Leonardo Picciani postou uma foto com a família e falou sobre o pai. Confira abaixo:
"Neste momento de partida do meu querido e já saudoso pai, em meio à tristeza que toma conta de toda a família, o sentimento é de reverenciar a memória de uma pessoa que sempre teve empatia pelo próximo e que, verdadeiramente, se importava com a vida do semelhante. Fez história na política do estado ao legislar em prol do melhor para a população do Rio, e se notabilizou como um homem de palavra. Picciani vai deixar grande saudade nos nossos corações. Vai em paz, meu pai! Que Deus o acolha nos seus braços!".
Prisões
Picciani foi alvo de duas grandes operações contra a corrupção na Alerj. Em novembro de 2017, a Operação Cadeia Velha prendeu o então presidente da Casa, além dos deputados Paulo Mello e Edson Albertassi.
Segundo as investigações, os deputados usavam da sua influência para aprovar projetos na Alerj para favorecer as empresas de ônibus e também as empreiteiras.
Um ano depois, já em prisão domiciliar, Picciani e outros nove parlamentares foram alvo da Furna da Onça, sobre o recebimento de propinas mensais de até R$ 100 mil e de cargos para votar de acordo com o interesse do governo.
O esquema teria movimentado pelo menos R$ 54 milhões, segundo a PF.
Ele e outros ex-parlamentares foram denunciados por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Em 2019, ele foi condenado há 21 anos de prisão pelo Tribunal Regional Federal da 2ª região.
Fonte: G1