(Foto: Gabriel de Paiva) |
O governador afastado Wilson Witzel teria sido cooptado, antes das eleições de 2018, para se tornar “o novo rosto” de uma organização criminosa acusada de aparelhar o estado para desviar cerca de R$ 50 milhões em contratos, segundo o Ministério Público Federal (MPF). A história de como a candidatura do então juiz federal foi supostamente orquestrada pela quadrilha é contada num depoimento prestado ao Ministério Público Federal (MPF) pelo empresário Edson Torres, apontado como operador financeiro do grupo.
Segundo Torres, o grupo teria se infiltrado na política fluminense no fim dos anos 1990. A quadrilha também teria participado da campanha de Sérgio Cabral, mas foi supostamente traída pelo ex-governador, que, de acordo com o delator, não cumpriu acordos. Após um período de afastamento do Palácio Guanabara, a organização, diz o MPF, usou seu poder econômico para fazer de Witzel o novo governador do Estado do Rio.
Em seu depoimento, Torres contou que, anos após perder negócios com o estado, conseguiu contratos com o o Hospital Universitário Pedro Ernesto. Foi nesse período que teria conhecido o futuro secretário de Saúde de Witzel, Edmar Santos. Ele era o diretor da unidade e recebia 10% do valor pago para a empresa Magna e 15% do total repassado à Verde, prestadoras de serviços que pertenciam a Torres. O próprio Edmar confirmou isso, em delação premiada.
Com o avanço da Operação Lava Jato no Rio e a desarticulação da quadrilha chefiada por Cabral, velhos atores de esquemas de corrupção se mobilizaram para voltar ao poder. Para essa empreitada, teriam escolhido Witzel, no primeiro semestre de 2017.
Registro em celular
Torres disse a procuradores que foi convidado pelo Pastor Everaldo, presidente nacional do PSC, a participar de uma reunião com Witzel na sede do partido, no Centro. Um registro extraído do celular do então juiz, anexado à denúncia do MPF, mostra que o encontro ocorreu em 10 de abril de 2017. Após a conversa, Torres e Everaldo teriam percebido a necessidade de “dar um conforto e segurança financeira” para Witzel, caso ele abrisse mão da magistratura e perdesse as eleições.
Torres acrescentou que, em conversa com seu grupo, ficou decidido que Witzel receberia R$ 1 milhão para se manter por dois anos, se saísse derrotado das urnas. O montante efetivamente pago, segundo ele, foi R$ 980 mil, em espécie. A entrega teria sido feita em parcelas, e Torres afirmou que, para a quitação da última, teve um encontro com Witzel e Everaldo numa sala comercial do Centro. Ele disse que o futuro governador levou uma bolsa, na qual teria colocado maços de R$ 50 mil.
Viagem suspeita
Witzel teria continuado a receber propina do grupo após eleito. Além de dar dinheiro a autoridades, a organização criminosa usava uma agência de turismo para fazer agrados a políticos. Witzel e a família embarcaram para a Disney no último réveillon, viagem que é investigada pelo MPF.
O que dizem os citados
O governador afastado, Wilson Witzel, se posicionou por meio de nota:
"Mais uma vez, trata-se de um vazamento de processo sigiloso para me atingir politicamente. Reafirmo minha idoneidade e desafio quem quer que seja a comprovar um centavo que não esteja declarado no meu Imposto de Renda, fruto do meu trabalho e compatível com a minha realidade financeira. Todo o meu patrimônio se resume à minha casa, no Grajaú, não tendo qualquer sinal exterior de riqueza que minimamente possa corroborar essa mentira. O único dinheiro ilícito encontrado, até agora, estava com o ex-secretário Edmar Santos."
A defesa do Pastor Everaldo também emitiu uma nota:
"A defesa do Pastor Everaldo esclarece que, desde o dia 28 de agosto, vem solicitando reiteradas vezes acesso à íntegra da investigação e da delação que embasaram a prisão, considerada desnecessária, uma vez que o Pastor sempre esteve à disposição das autoridades. No entanto, até o momento, a defesa não obteve êxito, razão pela qual não comentará vazamentos parciais de processo que corre em segredo de Justiça. O Pastor Everaldo reitera sua confiança na Justiça e na sua libertação".
Edmar Santos afirmou que não se manifesta sobre casos sob seu patrocínio.
Os demais citados não se pronunciaram.
fonte: Extra