(Foto: Ralph Braz | Pense Diferente) |
A economia brasileira ainda não reagiu o suficiente para voltar a gerar empregos e mais consumo. Na região central de Campos, por exemplo, o comércio de rua amarga sua pior fase. As portas fechadas com anúncios de aluguel afixados não atraem investidores. A circulação de pessoas reduziu-se. Alguns lojistas querem trazer consumidores de volta ao Centro. Eles sugeriram instalar pontos de vans na Rua Sete de Setembro. O pedido feito à Prefeitura de Campos surtiu efeito, e em breve, haverá mudanças no trânsito local.
Pelo menos nos últimos três anos, as instabilidades política e econômica no Brasil refletem nas cidades de todo o país. O número de estabelecimentos comerciais diminuiu neste período por conta da crise já citada. As consequências desse declínio são percebidas na área central da cidade e nos shoppings centers, onde a quantidade de lojas fechadas ainda causa espanto e lamento entre o segmento comercial. Comerciante há oito anos, Valdecir Andrade, viu sua lanchonete encolher na Rua Sete de Setembro. Para não fechar de vez, dispensou cinco funcionários e passou a trabalhar apenas com a esposa e o filho. Valdecir é um dos que apoia a criação de pontos de vans na região, a fim de fazer com que pessoas circulem por ali:
Valdecir Andrade é comerciante na Rua Sete de Setembro
“É uma forma de beneficiar os passageiros que não precisariam descer ou embarcar em locais como o Mercado Municipal, onde há pontos de vans distantes do Centro. Alguns veículos vindos de lugares como a Baixada Campista, por exemplo, poderiam parar aqui. A gente precisa fazer com que as pessoas circulem por aqui”, arrisca-se o comerciante que paga aluguel onde fabrica e vende empadas.
Já o vendedor Elcenir Terra, funcionário de uma ótica na Rua Sete de Setembro, não tem certeza se a criação de um ponto de embarque e desembarque de passageiros de vans no local resolverá o problema. “Acho muito complicado, pois criaram uma faixa para ciclistas e é permitido estacionar em apenas um lado da rua. Aqui costuma congestionar, pois as ruas centrais são estreitas e a quantidade de carro é grande”, diz.
Para Elcenir e Valdecir, reagir ao marasmo e ao esvaziamento do Centro é urgente. Eles temem ter o mesmo destino que dezenas de comerciantes vizinhos que não conseguiram manter seus estabelecimentos funcionando por conta da crise econômica. Ambos se queixam dos altos preços cobrados pelos aluguéis. “Aqui em frente, funcionava um restaurante. Em muito pouco tempo, três donos passaram por ali. Ninguém conseguiu manter. Acho que o valor alto dos aluguéis dos imóveis contribui. Sem falar que, cada vez menos pessoas passam por aqui”, comenta Elcenir.
Para o empresário Luiz Carlos Chicri, a tentativa de atrair consumidores para a Rua Sete de Setembro e adjacências com a utilização do transporte público será uma forma de movimentar a região, e, quem sabe, aquecer as vendas novamente. “Onde tem fluxo de pessoas, tem comércio motivado. Vários comerciantes estimulam a revitalização da área central. Pedimos à Prefeitura essas mudanças no trânsito para que vans possam ter pontos de embarque na Sete de Setembro, entre Rua dos Andradas e Ouvidor”, explica Chicri que preside a Associação de Comerciantes e Amigos da Rua João Pessoa (Carjopa). O empresário garante que a Prefeitura fará as mudanças sugeridas pelos lojistas. Procurada pela reportagem, a Secretaria de Infraestrutura e Mobilidade Urbana não respondeu como seriam as alterações; se seria retirada a ciclofaixa do local; se permitiria estacionamentos nos dois lados da via; e como ficariam os 32 taxistas que têm pontos fixos ali.
Com 44 anos de profissão e no mesmo local, o motorista de táxi Albeli Brandão, desconfia se um ponto de vans vai melhorar a situação do comércio. “A crise é geral, a rua é estreita, existe essa faixa para ciclistas. Não sei como seria essa mudança. Ampliaram o Calçadão, e a gente perdeu espaço para estacionar os táxis”, comenta Albeli.
Para o também taxista Cleverson Cabral que, há cinco anos tem ponto de parada na Sete de Setembro, qualquer alteração no espaço precisa ser bem planejada: “Botar gente para circular com tantos comércios fechados não faz muito sentido. Tudo aqui abre e fecha rápido, pois os aluguéis são caríssimos. Tenho dúvidas se isto vai mesmo acontecer”, diz.
A Prefeitura de Campos alega que o Centro Histórico tem sido mantido com manutenção e melhorias de acordo com as disponibilidades financeiras do município. “Temos alguns projetos pontuais. De fato, a região perdeu muito fluxo de pessoas. Ainda neste ano, esses projetos serão implementados objetivando aumentar a circulação de pessoas no local.”, informou o secretário de Desenvolvimento Econômico, Felipe Quintanilha.
Outras iniciativas particulares de ativistas culturais também querem revitalizar o Centro de Campos. O projeto “Circuito Centro Vivo” inaugurou no dia 22, uma série de atividades sobre história, fotografia, arquitetura e artes em geral. A ideia é ocupar praças, becos e locais como o Mercado Municipal, Cais da Lapa e Viaduto, entre outros, durante fins de semana nos horários diurno e noturno. O primeiro evento foi no Beco (Travessa Carlos Gomes). Uma das responsáveis é Ianani Dias, integrante do Laboratório de Cultura e Planejamento Urbano da Universidade Federal Fluminense:
“É preciso um novo olhar sobre o espaço público para que este seja valorizado pela população e pelos governantes. Nos últimos anos, apesar de um projeto de revitalização, observa-se uma decadência do lugar que abriga tantas memórias e faz parte da história regional e nacional”, conclui.