(Foto: reprodução Facebook) |
O cirurgião plástico Renato Tatagiba, de Campos dos Goytacazes, e a secretária da clínica onde trabalhava em Vila Velha, Priscila Nascimento de Souza Cyrilo, foram denunciados pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES). Tatagiba foi acusado de lesão corporal culposa em uma cirurgia estética realizada há dois anos. O crime prevê pena de dois meses a um ano de detenção. Ele também foi denunciado por falsificação de documentos. Já Priscila foi acusada de falsificar receituários e atestados médicos.
A paciente, uma empresária de 34 anos – que preferiu não ter a identidade revelada –, fez uma queixa ao MPES, que solicitou investigação à Polícia Civil. Após a conclusão do inquérito criminal, a denúncia foi apresentada à Justiça.
Segundo o promotor do caso, Roberto Silveira Silva, Tatagiba praticou lesão corporal culposa, “na modalidade de erro médico”, em uma cirurgia de mastopexia (correção de mamas caídas), lipoaspiração e correção de cicatriz de cesárea. Na ocasião, após a intervenção que foi realizada em janeiro de 2016, a empresária apresentou sintomas que, de acordo com a denúncia, não eram previstos como normais no pós-cirúrgico como “falta de ar, dores insuportáveis e a presença de secreções nos seios”.
“Minha vida virou um inferno. Todos os médicos que me atenderam depois disseram que eu passei mal devido ao bloqueio (a anestesia) que me fizeram no dia da mamoplastia. Eles acreditam que eu tive uma parada cardíaca durante a cirurgia e que o doutor Renato Tatagiba só amenizou a situação, não me socorreu”, afirmou a paciente.
Ainda segundo a denúncia, a paciente, que sentia fortes dores, tentou marcar uma consulta de emergência com Tatagiba depois que teve alta. Ela manteve contato com a secretária Priscila, que afirmava que o médico não estava no Espírito Santo.
INTERNAÇÃO
Quando conseguiu falar com o cirurgião, ele orientou que a mulher retirasse a cinta de proteção e caminhasse. No entanto, as dores permaneceram e depois de uma semana do procedimento cirúrgico, a empresária deu entrada no hospital. Ela ficou internada por sete dias em uma UTI.
Após receber alta, as dores continuavam e a paciente tentou retomar o contato com Tatagiba. Com dificuldades de falar com o cirurgião, a empresária ligou para um médico da equipe dele, que, por sua vez, procurou Priscila que finalmente viabilizou o contato da vítima com Tatagiba.
RECEITA MÉDICA
A denúncia do MPES traz ainda mais detalhes sobre o caso. O documento diz que o médico afirmou que deixaria uma receita médica com a secretária, mas, procurada, Priscila disse que não ficou com nenhum receituário. Segundo a denúncia, Priscila questionou a paciente qual seria a medicação porque ela mesma confeccionaria a receita e assinaria o documento. De acordo com a denúncia do promotor Roberto Silveira Silva, a secretária disse ainda que Tatagiba a autorizava assinar os receituários em nome dele, fato que foi comprovado pelos áudios anexados na denúncia. Por conta deste fato, o cirurgião também foi enquadrado no artigo 298 do Código Penal, por falsificação de documentos.
O promotor ainda destacou a grande quantidade de cirurgias realizadas no dia em que a vítima foi operada. Segundo a denúncia, foram aproximadamente nove procedimentos dos mais variados tipos, como próteses de silicone, lipoaspiração, entre outras.
Intimados a comparecerem na delegacia, Tatagiba e Priscila se reservaram o direito de se manifestarem apenas em juízo. Ao serem solicitados a fornecer material grafotécnico para comparação com as assinaturas que estão nos autos, os acusados se negaram, alegando que não produziriam provas contra si mesmos. No entanto, de acordo com o promotor do caso, é possível perceber com facilidade as inconsistências das assinaturas.
SOFRIMENTO
Agora, a empresária convive com uma insuficiência cardíaca e diz que depende de medicação para o resto da vida. “Se eu converso por muito tempo já fico ofegante. Não faço mais atividade física e eu era simplesmente apaixonada por muay thai. Minha vida foi destruída depois dessa cirurgia.”
Além disso, ela diz que os danos não foram apenas cardiológicos. A empresária conta que precisou encarar o fato de que as mamas ficaram deformadas. Com a sensação de que os seios latejavam de tanta dor, ela procurou outro médico e precisou se submeter a outra cirurgia para corrigir o procedimento anterior. “Hoje tomo remédios fortíssimos e faço tratamento para depressão.”
SIGILO
Procurado para comentar a denúncia do Ministério Público do Espírito Santo (MPES) contra o médico Renato Tatagiba, o Conselho Regional de Medicina (CRM-ES) informou que os processos e sindicâncias tramitam em sigilo.
Segundo o órgão, se a atuação ou a omissão de um médico estiver prejudicando um paciente ou a população, uma interdição cautelar pode ser aplicada pelo conselho.
Essa interdição pode acontecer no início ou durante o curso de um processo ético-profissional contra um médico. Ainda de acordo com o CRM-ES, em casos de punições como censura pública, suspensão do exercício ou até a cassação de um profissional, a divulgação é feita no Diário Oficial e em jornal de grande circulação.
MÉDICO NEGA QUE HOUVE ERRO
O médico Renato Tatagiba disse que ainda não foi comunicado oficialmente sobre a denúncia do Ministério Público do Espírito Santo (MPES). O advogado do cirurgião plástico, Celso Papaleo, também afirmou que vai se manifestar no processo assim que for notificado.
“O que temos é que o processo está em fase de inquérito policial. Vamos fazer uma manifestação no processo para que seja concluído que não houve crime porque de fato não houve”, afirmou Papaleo, que também faz a defesa de Priscila Nascimento de Souza Cyrilo, acusada de falsificar receituários e atestados médicos quando era secretária de Tatagiba, em uma clínica de Vila Velha.
Segundo o cirurgião plástico, a defesa desse caso está fundamentada e comprova que as acusações são falsas. “Como houve erro médico se não foi julgado? Não foi feito sequer um laudo confirmando isso”, pontuou Tatagiba.
Ainda segundo ele, é possível realizar 10 procedimentos cirúrgicos em um mesmo dia dependendo do tipo de cirurgia e do médico. “Tempo cirúrgico é muito relativo. Para colocar uma prótese de silicone preciso de 45 minutos. Mal de ser lerdo eu não padeço. Nunca perdi um paciente na minha vida”, afirmou, acrescentando que já atendeu a mais de 17 mil pacientes.
Já sobre a acusação do MPES de falsificação de documentos, Renato Tatagiba explicou que os receituários ficam prontos no consultório. “A receita já fica pronta, carimbada e assinada. Não existe nada para prescrever. Se a paciente precisar, a receita é entregue a ela.”
Para Tatagiba, o caso em questão faz parte de uma “indústria da possibilidade do dano moral”. Ou seja, pacientes entram na Justiça contra cirurgiões plásticos para se beneficiarem com o dinheiro que pode ser adquirido nas causas.
Fonte: A Gazeta