(Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo) |
Ainda era madrugada quando Marcos Alberto Gorni, de 46 anos, chegou na Paróquia São Lourenço, em Bangu, para garantir as cestas da mãe, Maria Madalena, e da irmã Isabelle, ambas pensionistas do Estado do Rio. No local, estava marcada para começar às 9h a distribuição de cerca de 300 kits básicos de alimentação a quem sofre com salários atrasados há cerca de dois anos. O recolhimento dos alimentos foi feito pela ONG Ação da Cidadania e oferecido a três sindicatos de trabalhadores
Enquanto recebiam as cestas, os beneficiados agradeciam, mas também confessavam que a ajuda passa longe de resolver seus problemas:
- Moramos eu e minha filha sozinhas e nossas únicas fonte de renda são as duas pensões do meu marido. Agora a gente não tem mais nada: nem sabão, nem feijão. E estamos devendo até a cabeça, mais de R$ 20 mil. Desde 2016 eu só pego empréstimo. Peguei dinheiro no cheque especial pois não tinha o que comer. E não durmo mais. Estou de cabelo branco, com a pressão alta, me sentindo impotente. O nosso dinheiro está na mesa do Pezão - lamentou Maria Madalena Gorni.
Enquanto tentava ajudar a mãe, Marcos Alberto - que era motorista em uma empresa de ônibus, mas está desempregado desde o último dia 6, ainda passou por apuros.
- Cheguei aqui às 4h50M. Minha esposa viria para segurar o lugar da minha mãe, que tem 65 anos, mas falei que era muito perigoso. Acabou que eu mesmo fui assaltado na porta, esperando a paróquia abrir - contou ele, que foi rendido por um jovem com uma arma de brinquedo, mas teve seu celular recuperado logo depois por policiais.
A servidora da Saúde Dalma Mello, de 50 anos, chegou às 6h. Mas isso só foi possível graças a uma carona oferecida por uma antiga colega de trabalho. Com o filho de 24 anos desempregado há um ano e meio - ele era vigilante - ela não tinha dinheiro sequer para pagar a passagem até a paróquia.
- Moramos na casa: eu, meu filho desempregado de 24 anos, outro de 12 e um neto de três. Tudo está as minhas custas. Mas com essa situação, tive que arranjar bicos. Estou trabalhando para a minha sobrinha: cuidando dos filhos dela, lavando e passando roupa. Mas não dá para bancar. Essa bolsa de comida vai para a alimentação do meu neto, que é menor - contou.
Nesta sexta-feira devem ser distribuídas mais 200 cestas de Natal pelos sindicatos, em Quintino.
- A Ação da Cidadania fez uma campanha "Natal sem fome", antes de outubro, para arrecadar alimentos. Conseguiu juntar 100 toneladas e disse que destinaria parte aos servidores do estado. Então três sindicatos foram contactados para fazer a distribuição - explicou Marcos Freitas, coordenador geral do Sindpefaetec.
MACARRÃO PARA QUEM FICOU SEM CESTA
Cerca de 30 pessoas ficaram sem cestas. Para elas não saírem de mãos vazias, a organização distribuiu pacotes de macarrão vindos de doações avulsas. A decepção, porém, foi evidente.
- Saí de casa às 8h, mas como moro em Inhoaíba, cheguei quase às 10h. Não consegui a cesta e só peguei três macarrões. Mas estão abençoados. Vou esperar aqui para ver se ganho mais um pacote - disse Neuza Maria de Oliveira, de 67 anos:
- A situação está péssima. Não tem nada na minha casa. Sou pensionista do salário mínimo e estou há três meses sem receber. Moro com dois filhos que estão desempregados há um ano (ela era vendedora e ele, segurança). Eles só choram. Nossas contas estão atrasadas, fizemos dívidas, eu estou com o nome sujo. Isso nunca tinha acontecido antes, apesar de ganhar pouco. Sempre paguei tudo em dia e minha filha me dava uma ajuda, R$ 250 quando podia. Nese mês, meu irmão pagou meu gás. Mas não vou ter Natal. Além de tudo, a minha pressão fica alta com frequência, chega a marcar 22. Tive três picos neste mês. Estou sempre na UPA.
Fonte: Extra