(Foto: Estefan Radovicz ) |
'Corra freguesia! São 30 ovos por R$ 10! Eu disse R$ 10! Ovos graúúúúdos! A galinha chorooou, Coitada!!!". O anúncio, feito com estardalhaço, exaustivamente, em tom de humor duvidoso, ecoa em alto-falantes, anunciando a chegada do carro do ovo. Um fenômeno nacional que ganhou as ruas. A espalhafatosa e estridente propaganda vem de veículos de passeio, kombis e caminhões. No Rio é uma febre, aquecida pelas redes sociais, que divulgam trajetos e espalham memes.
O inusitado comércio, como lenda urbana, gera especulações divertidas quanto à origem de tantos ovos, vendidos freneticamente nas favelas e no asfalto. Apesar de ainda não ser regulamentada por isso não há números oficiais , a atividade gera também ocupação e renda. É o caso do ex-bancário Daniel Ferreira, 35 anos, que descobriu "a galinha dos ovos de ouro".
"É lucrativo, mas é preciso disposição", atesta Daniel. Há um ano ele usa seu carro para despejar diariamente 4.690 ovos ou 156 cartelas com 30 nas panelas de donas de casa de cerca de 50 ruas do Rio, Niterói e São Gonçalo. Além de sustentar esposa e três filhos, Daniel se deu ao luxo de 'contratar' dois amigos desempregados: o professor de Português, Davi Velasco, 24, e o servente Gilcemar Vasconcelos, 44.
Assim como outros 80 revendedores (estimativa deles), todos os dias Daniel levanta às 4h e, às 6h, está na Ceasa, em Irajá, na Zona Norte. É de lá que sai boa parte dos 4,1 milhões de ovos produzidos anualmente no estado, segundo a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-Rio). Outra parte vem de São Paulo, Minas e do Sul.
Festa dos consumidores
O aposentado Heraldo Ferreira, 67, não esconde que é um "baba ovo" do alimento popular mais badalado do momento e que a família faz até festival de receitas com o "coringa" da cozinha. "Ex-vilões da saúde, ovos são ricos em vitaminas do Complexo B", justifica. "Ovos itinerantes são bem mais baratos. No supermercado a dúzia custa R$ 6", diz Neiva Souza, 47. "Tem uns que vêm até com duas gemas", brinca Vera Cerqueira, 69.
Fonte: O Dia