(Foto: Fabiano Rocha) |
A proposta do governo do estado de municipalizar os restaurantes populares foi a alternativa encontrada para evitar o fim das unidades — que, por várias vezes ao longo do ano, fecharam por atrasos de pagamento aos fornecedores. Com base nisso, um decreto estadual foi publicado na sexta-feira, garantindo a transferência às prefeituras. No caso do Rio, Eduardo Paes assegurou o funcionamento do programa até dezembro. A partir de janeiro, caberá ao prefeito eleito, Marcelo Crivella, assumir a administração. Enquanto isso, a população que depende do serviço convive com a apreensão.
O aposentado Baldoino Joaquim de Paula, de 72 anos, morador da Ilha, costuma frequentar os restaurantes populares de Bonsucesso e da Central. Mesmo longe de casa, ele diz que a economia compensa, pois tem gratuidade no transporte.
— Além da aposentadoria de um salário mínimo (R$ 880), vivo de consertar relógios. Mas tem dias em que não vendo uma bateria. Não tenho como comer em outro lugar. A quentinha mais barata não sai por menos de R$ 10. Com esse valor, como no restaurante popular de segunda a sexta-feira. O pessoal que depende daqui, como os moradores de rua, vai morrer de fome se as unidades fecharem.
Boa parte dos frequentadores tem renda de até R$ 880
Wagner José da Silva, de 43 anos, trabalha com reciclagem de materiais, mora no Rio Comprido, na Zona Norte, e vai todos os dias, de bicicleta, almoçar no restaurante popular da Central:
— Aqui é barato (a refeição custa R$ 2 e vem acompanhada de refresco e sobremesa). Trabalho com reciclagem de papéis, papelão e latinhas de cerveja e refrigerante, o que me garante R$ 500 por mês. Vai fazer falta (se o programa for descontinuado). Dá vontade de chorar.
Júlio Cesar Amorim, de 39 anos, biscateiro, mora no Tanque, em Jacarepaguá, e trabalha no Centro do Rio. Ele recebe R$ 880 por mês, paga R$ 440 de aluguel e tem mais de mil reais em dívidas:
— O governo do estado não está nem aí para as pessoas que estão passando fome. Não quer nem saber se temos ou não o que comer. Não se preocupa com os pobres. Eu venho aqui (no restaurante popular da Central) porque ganho pouco e estou cheio de dívidas. O pouco que sobra do salário mal dá para comer. Tem gente que não tem nada, mas com R$ 2 vem e consegue se alimentar para encarar o dia a dia.
O aposentado Zilmar Barbosa Lima, de 59 anos, morador na Gamboa, no Centro, utiliza o restaurante popular da Central há cinco anos e também teme pelo fechamento da unidade.
— Sou aposentado e venho todos os dias para almoçar. É uma pena não servirem jantar. Se fechar, vai deixar muita gente na mão. É a forma de fazer render a aposentadoria. Ganho R$ 1.400, mas tenho filhos e neto para sustentar e pago aluguel, sem contar as outras despesas, como as de água e luz.
O projeto de municipalização dos restaurantes populares segue o exemplo do que já aconteceu com hospitais da rede estadual.