(Foto: A.N.I | Leitor) |
A retirada da estátua de Nilo Peçanha, que estava instalada na avenida homônima, gerou debate entre membros da comissão do grupo de trabalho para a elaboração e o acompanhamento da programação comemorativa do centenário das obras de saneamento e melhorias de Campos. As reformas foram efetuadas no segundo governo de Nilo como governador. A discussão aconteceu após a saída do monumento do local, sem que houvesse concordância de todas as partes. No momento, a escultura passa por restauração.
Os membros fazem parte da Câmara de Vereadores, do Conselho de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural (Coppam), da Secretaria de Insfraestrutura e Mobilidade Urbana, da Academia Campista de Letras (ACL), do Instituto Histórico e Geográfico e do Museu Histórico. Os componentes foram selecionados para organizar a comemoração do evento. Entre os participantes, estão a historiadora Sylvia Paes, do Instituto, e o professor Hélio Coelho, presidente da ACL. Ambos apresentam posicionamentos diferentes sobre a retirada.
Hélio contou que o assunto faz parte da preparação para a festa de comemoração do centenário de inauguração das obras de melhoramento de Campos, que incluem a Praça Nilo Peçanha (Jardim São Benedito) e a atual sede da ACL. Após a decisão para a realização do evento, foi definido, pelo governo municipal, o grupo de trabalho, responsável por organizar eventos entre os dias 23 de setembro e 5 de novembro.
— Nesse processo todo, houve uma grande discussão sobre a escultura da Avenida Nilo Peçanha, que foi inaugurada, em 1967, para comemorar os 100 anos de seu nascimento. Mas, em 67, Campos era uma cidade bucólica. Não tinha esse movimento. Portanto, a estátua ali ganhou sentido numa época de contemplação. Mas, considerando o fluxo de carros e a alta periculosidade daquele lugar, a apreciação daquela obra de arte é inviabilizada. Perdeu totalmente o sentido — opinou o presidente da ACL.
Devido às mudanças na cidade, citadas por Hélio, surgiu a ideia de restaurar a escultura e definir um local mais adequado, com placa de identificação e QR Code para as pessoas, com celulares, terem a oportunidade de conhecer a história de Nilo. “Não é ideia de violação de patrimônio histórico urbano. Mas é uma ideia que se contrapõe à de que o que está em um lugar tem que permanecer. Tem que pensar que se estava ali como uma estátua de relevância ou uma prótese”, afirmou.
A opinião de Hélio é diferente da de Sylvia Paes. A professora e representante do Instituto Histórico e Geográfico de Campos, que trabalha com educação patrimonial, declarou que a decisão vai de encontro a vários estatutos de patrimônio cultural da humanidade.
— Não é uma coisa inventada por mim. É algo que foi embasado em estudos que foram feitos há muito tempo e que estão quase petrificados pela Unesco. E não é só ela que recomenda não mexer nos monumentos. A memória da cidade é a das pessoas que moram na cidade. Se você começa a mexer com esse patrimônio, você não confere pertencimento porque não confere memória — analisou.
Outra questão abordada por Sylvia foi a possível transferência da escultura, que estava “na porta da cidade”, para o Jardim São Benedito, local que já tem representações de Nilo Peçanha.
— Ou seja, não se democratiza a memória. Você está elitizando e trancando essa memória em uma praça, que é fechada em determinadas horas. Cadê a democratização do patrimônio? As pessoas têm que chegar perto. Lá (na avenida), todos tinham acesso. Mas a história vai se encarregar de colocar tudo isso em pratos limpos — assegurou.
O jornalista e professor Orávio de Campos Soares também integra a comissão do grupo de trabalho. Ele contou que a estátua está passando por um processo de despoluição.
— Havia quase meio centímetro de poluição. Há um projeto de ela ser recolocada no Jardim São Benedito, onde tem uma área verde. Onde ela está, está mal vista, mal colocada e sendo depreciada pelo tempo. Mas penso que essa questão ainda não está fechada, — afirmou Orávio, ressaltando que, no dia 14, haverá uma reunião, na sede do Coppam, aberta à sociedade, para debater o assunto.
Fonte: Folha da Manhã