(Foto: Guilherme Pinto / Extra) |
Com dois meses de salários atrasados, 19 médicos da equipe de transplante renal do Hospital Federal de Bonsucesso (HFB) suspenderam as cirurgias nesta sexta-feira. A partir deste sábado, pacientes cadastrados pela unidade na fila única de espera por um órgão no estado precisarão ser encaminhados a outros centros transplantadores caso sejam chamados para o procedimento. A paralisação foi comunicada ontem ao Programa Estadual de Transplantes.
— Acabaram de nos pagar o mês de junho. Estamos sem os salários de julho e agosto. Mesmo assim, não deixamos de realizar nenhum transplante no HFB. Mas tudo tem um limite. Mandei carta para a Defensoria Pública, vínhamos avisando a todos que a situação estava insustentável. Infelizmente, tivemos que tomar essa atitude — disse o cirurgião vascular Hermógenes Petean Filho, que chefia uma equipe formada por seis cirurgiões vasculares, seis urologistas e sete anestesistas no HFB, todos especializados em transplante.
Foram realizados, este ano, 52 transplantes renais no hospital. Segundo Petean, os salários são pagos por meio de um convênio com a Uerj:
— Não temos sequer carteira assinada. Recebemos por meio de uma bolsa da Uerj.
O cirurgião alerta ainda que sua equipe é a única no estado que realiza transplanta renal em crianças com menos de 30 quilos. A Secretaria estadual de Saúde afirmou, no entanto, que o Hospital da Criança opera pacientes nessa faixa de peso.
A direção do HFB informou, em nota, que o atendimento ambulatorial, a realização de exames, a hemodiálise e a internações para pacientes em tratamento pré e pós-cirúrgico funcionam normalmente. O comunicado afirma ainda que o repasse das bolsas da Uerj foi realizado no mês de setembro e que as providências necessárias para regularizar a situação estão sendo tomadas.
Centro transplantador do estado paralisou cirurgias no mês passado
No mês pasado, o Centro Estadual de Transplantes (CET), inaugurado em 2013 no Hospital São Francisco de Assis (HSFA), na Tijuca, também paralisou os transplantes de rim e fígado. Em função da crise financeira por que passa o governo estadual, o convênio com a unidade foi rompido. O hospital agora passa a receber o repasse por meio do Ministério da Saúde, como acontece com todos os centros transplantadores do país.
O HSFA, que, até meados de 2015 era responsável por 60% dos procedimentos de rim no estado, precisou transferir seus pacientes para outras unidades no momento em que foram chamados para a cirurgia. Em janeiro, o governo estadual negociou com a OS Associação Lar de São Francisco uma redução na verba mensal de R$ 9,5 milhões para R$ 6,5 milhões. Ainda assim, a OS teria recebido, entre janeiro e agosto, R$ 36,4 milhões dos R$ 52 milhões acertados. Em setembro no ano passado, a unidade ameaçou fechar as portas e, em janeiro deste ano, chegou a suspender os transplantes.
Pelos 132 transplantes de rim e fígado realizados este ano, o HSFA receberia do Ministério da Saúde — se fosse uma unidade conveniada diretamente ao SUS e não ao governo estadual, mediante um contrato — R$ 5,3 milhões. Uma tabela estabelece os valores pagos por procedimento. Assim, os repasses estaduais à unidade (de R$ 52 milhões) são quase dez vezes maiores do que o recebido pelos centros de transplantes ligados ao SUS. Mas é para essa realidade que o HSFA migrou diante da crise financeira do estado. Segundo a Secretaria estadual de Saúde, os transplantes voltaram a ser realizados no hospital da Tijuca.
Fonte: EXTRA