Nas últimas semanas, adolescentes armados com facas vêm protagonizando uma onda de assaltos a ciclistas e pedestres na pista de lazer que circunda a Lagoa Rodrigo de Freitas, um dos principais cartões postais do Rio de Janeiro. A rotina de violência chamou ainda mais atenção depois que um jovem de 14 anos, atleta de remo do Flamengo, foi esfaqueado após ter sua bicicleta roubada. O caso ocorreu no último sábado (25). Há registros de pelo menos outros dois casos na semana anterior.
Há quatro dias, segundo a Polícia Militar, o patrulhamento foi reforçado com rondas diárias de carros da PM, policiais a pé, veículos elétricos, motos e policiais militares em bicicletas. Desde domingo (26), cinco suspeitos foram apreendidos pela polícia na Lagoa e em bairros vizinhos. Dois deles portavam facas e, levados à delegacia, foram reconhecidos posteriormente pelo atleta de remo do Flamengo.
Na terça-feira (28), a reportagem do UOL esteve no bairro da zona sul carioca e constatou que o clima de insegurança na Lagoa está alterando a rotina de quem frequenta o local. É o caso da arquiteta Gisele Carvalho, 55, que passou a alugar bicicletas em vez de utilizar o próprio veículo. "A minha bicicleta eu deixo na garagem de casa, pois não dá para confiar. É uma sensação muito grande de intranquilidade", afirmou ela.
"Eu chego aqui, pago R$ 10 para alugar uma bicicleta e faço meu exercício todos os dias. Prefiro gastar esse dinheiro do que pedalar com medo. (...) Tenho procurado não trazer o celular nem outros pertences", disse a arquiteta. "Trago só uma pequena quantia em dinheiro e os documentos. É o mínimo que a gente faz para se sentir um pouco mais segura."
O comerciante Ricardo Motta, que trabalha diariamente na Lagoa alugando triciclos no Parque dos Patins, afirmou que os assaltos sempre ocorreram na região, mas que há "altos e baixos". "Tem momentos em que os assaltos acontecem quase que diariamente, como agora, pelo que a gente ouve dos clientes. Mas há violência aqui como em todo lugar na cidade. Acredito até que, lá fora, acontece mais do que aqui. Mas, por ser a Lagoa, um lugar nobre, a gente sempre espera que a segurança aqui seja maior", declarou ele.
A aposentada Nilza Moreno, 68, que diz frequentar a Lagoa há mais de 40 anos, afirmou já ter sofrido uma tentativa de assalto quando realizava uma caminhada matinal. "Como eu estava sem carteira e sem celular, ele [o criminoso] tentou levar os óculos que eu estava usando. A vontade que tive foi de empurrá-los e jogá-los na Lagoa. Como eu esbocei reagir, ele se assustou e acabou correndo", relatou.
A idosa contou ainda que sua filha desistiu de pedalar pela Lagoa depois de ter sido roubada duas vezes. "Ela ficou traumatizada com essa situação. Foram duas bicicletas que ela perdeu", afirmou. Amigo de Nilza, o engenheiro Joaquim Duarte, dono de uma oficina de bicicletas, disse que as reclamações de clientes são constantes. "Toda semana, pelo menos um cliente reclama de ter sofrido uma tentativa de assalto. Muitas vezes, o ladrão danifica a bicicleta, mas não consegue roubá-la", contou.
Moradora da Lagoa, a pedagoga Mariana Borioni, 53, afirmou que os trechos mais perigosos estão situados nos arredores do Corte do Cantagalo. "Eles roubam e atravessam a pista. É uma área que tem muitas rotas de fuga", explicou ela, que disse frequentar o Parque dos Patins todos os dias, sempre pela manhã. "Aqui eu conheço todo mundo, até mesmo o pessoal que dorme na rua. A gente sabe quem é quem. Paz, você nunca vai ter", afirmou. "Eu fico com medo que vem pela frente."
Mensagens de alerta
Na semana passada, moradores da Lagoa afixaram mensagens ao longo da ciclovia, nos arredores do Parque dos Patins, para alertar sobre o risco de roubos e outros atos de violência na região: "O horário é por volta das 6h e 7h. Dois indivíduos abordam o ciclista, um deles portando ao menos uma faca, e levam a bicicleta, celular e demais pertences."
Fonte: UOL