Ela começou a sentir falta de ar e a gritar que estava morrendo, enquanto pedia para eu segurar a mão dela”, disse Elizabete Gonçalves, de 55 anos, que era vizinha de Arlete Pereira Ramos, de 66 anos, que morreu no início da tarde de domingo (22), após passar mal dentro de casa, na estrada do Açúcar, em Boa Vista. Segundo os moradores e amigos de Arlete, a equipe do programa Emergência em Casa teria demorado cerca de uma hora para prestar o atendimento.
Os vizinhos contaram que a idosa morava de aluguel na residência e tinha problema de pressão alta e artrose. Por isso, ela tinha dificuldade para andar e contava sempre com a ajuda dos vizinhos. “Nós estávamos conversando quando ela passou mal, por volta de 11h. Foi tudo muito rápido. Ela estava deitada na cama quando começou a sentir falta de ar. Nós logo ligamos para a emergência, mas nada deles chegarem”, contou Elizabete. “Insistimos, ligamos diversas vezes, porque não entendemos o motivo da demora, já que do postinho de Baixa Grande até aqui, são 10 minutos. Peguei o carro, fui até lá, quando cheguei vi o motorista dentro da ambulância esperando os médicos, que estavam dentro do posto assistindo televisão”, contou Grazielle Rangel Monteiro, de 27 anos.
A moradora relatou, ainda, que alguns minutos depois do flagrante, a ambulância chegou ao local, “Eles chegaram alguns minutos depois de eu ter voltado para casa após ter dado a bronca neles. Eles entraram na casa da Arlete, olharam a pupila dela e deram como morta. Meu tio começou a filmar, e um dos médicos deu um tapa no celular, minha filha continuou filmando, foi quando percebi que a barriga dela estava mexendo. Coloquei a mão no pulso dela e percebi que ainda estava pulsando. Imediatamente eles colocaram o corpo dela numa maca e fizeram os procedimentos adequados para ver se ela realmente havia morrido”, disse Grazielle.
Os vizinhos disseram, ainda, que os médicos teriam ameaçado não relatarem o laudo da morte da vítima a eles por estarem filmando o ocorrido. “Depois que falamos que enviaríamos os vídeos à imprensa, que eles passaram um longo tempo tentando reanimá-la, nem sabemos dizer se ela chegou com vida no posto ou não”, contou. Os médicos que realizaram o atendimento no local não quiseram falar.
Em nota, a secretaria de Saúde afirmou que familiares informaram que a idosa já estava doente. A Secretaria de Saúde vai ouvir a gravação do chamado a fim de promover uma apuração mais detalhada sobre o caso.
Serviço já foi alvo de críticas anteriormente
As reclamações sobre o atendimento do programa Emergência em Casa são antigas. Em 2012, a Folha publicou uma matéria, em que o engenheiro de inspeção Jefferson Pinto Soares, de 23 anos, criticou o atendimento do programa. Ele havia relatado que, quando a avó, de 80 anos na época, precisou do atendimento dos médicos de emergência, apenas uma ambulância foi enviada, porém, sem a presença de um profissional de saúde.
As reclamações dos moradores de Boa Vista não são diferentes. “Você liga para o 192, eles te enchem de perguntas, pedem até o seu CPF, e falam que já estão indo, mas chegam uma hora depois. Eles dizem que estão sem receber, mas nós não temos nada a ver com isso. O descaso deles é muito grande”, reclamou Joelson de Souza Monteiro.
Elizabete Gonçalves, de 55 anos, contou que a vida do filho poderia ter sido salva se o atendimento emergencial tivesse acontecido. “Em 2013, meu filho morreu aos 20 anos de idade, depois de se envolver em um acidente de carro aqui mesmo na estrada. Ele estava vivo, conversando com as pessoas, mas, devido à demora do socorro, ele acabou morrendo sem nem mesmo ser atendido”, acrescentou.
Fonte: Folha da Manhã