(Fotos: Ralph Braz) |
Construção de prédio na Rua Pereira Nunes, no centro de Campos está acarretando grande transtorno para os vizinhos, da obra.
"Devido ao rebaixamento do lençol freático, onde são desperdiçados milhares de litros de água, que além de ser uma atividade extremante agressiva ao meio ambiente, principalmente neste período de falta d'água. Hoje a água jogada na sarjeta é de com barrenta, mas de acordo com moradores, no início a água era cristalina.Esse problema começou no mês de janeiro, onde durante o Carnaval teve uma interrupção, retornando com toda força, depois do feriado."
Estive na manhã desta terça-feira, na Rua Doutor Pereira Nunes, na Pelinca, em Campos, onde há cerca de um mês uma obra em fase de fundação do Condomínio Maxime Residence, de responsabilidade da empresa RMZ Engenharia Ldta., está provocando um vazamento ininterrupto de água. Para a instalação dos pilares e colunas que vão sustentar, são feitas perfurações até encontrar solo firme. Uma vez alcançado o lençol freático, toda a água é eliminada.
Em nossa primeira visita ao local, um encarregado da obra, que não quis ser identificado, revelou que o desperdício chega a 20 mil litros de água por hora. Segundo cálculos do economista Alexandre Delvaux, “são 480.000 litros por dia que se perdem no vazamento”.
De acordo com a concessionária Águas do Paraíba, o consumo mínimo de água em Campos chega a 120 litros por dia, neste caso, o vazamento corresponde ao consumo de água de 4 mil pessoas em um dia. “Se o vazamento persistir por 30 dias, serão 14.400.000 litros de água perdidos, o que equivale ao consumo deste mesmo número de pessoas durante um mês”, estimou Delvaux.
Guilherme Castro, responsável na obra da empresa InterRio Incorporadora, parte no consórcio que executa os trabalhos, disse que o procedimento é normal e segundo ele, o vazamento ainda deve demorar para ser sanado.
“Esse vazamento está previsto para terminar em 10 dias. Essa água está voltando ao subsolo. Isso é normal em toda obra. Fizemos um teste com um caminhão pipa, mas eles acharam inviável para abastecerem. Se eu pegar essa água e colocar em outro lugar eu tenho que pedir autorização do Inea”, contou acrescentando ainda que tentou fazer parceira com caminhão pipa e com a Prefeitura, mas não foi possível, porque consideram demorado o procedimento para abastecimento do caminhão.
Procurado pela equipe do Site Ururau, o superintendente do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), René Justen, disse que a situação é normal e que a água, caindo no valão Campos/Macaé, ainda está cumprindo um ciclo.
“A água está mudando de posição, mas permanece na bacia hídrica. Aquela água está sendo jogada no valão e sendo tratada junto com o esgoto na rede de tratamento na Chatuba”, expôs René explicando o percurso que a água, teoricamente limpa, já que não passou por análise, faz até encontrar o canal Campos/Macaé, por onde segue até a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), localizada na comunidade da Chatuba, no Parque Aurora, onde passa por processo de tratamento.
Convidado pelo Site Ururau para visitar o local, o historiador em meio ambiente, Aristides Soffiati opinou contra o superintendente do Inea e classificou como desperdício o que presenciou.
“É um ressecamento do subsolo, um desperdício. Porque é uma água que cai na rede de águas pluviais, que está bastante interligada ao esgoto. Essa água está sendo jogada fora, seja do rio ou do subsolo, porque ela vai para um ralo, cai nas redes pluviais e vai embora”, explicou Soffiati que acrescentou:
“O sol consegue absorver, mas acontece que essa chuva não cai aqui. A chuva formada na Amazônia em grande parte cai na Amazônia e aqui, como não temos nenhum mecanismo para atrair a chuva [grandes áreas com concentração de árvores], temos grandes chances dela cair em outro lugar e com isso perdemos água. Uma área muito grande está sendo ressecada e todos vão sofrer fortes consequências por causa desse desperdício”, alertou.
O ambientalista explicou ainda que a água que jorra há cerca de um mês na obra é proveniente do lençol freático e está sendo retirada por bombeamento. Segundo ele, a perfuração de um poço não causaria um vazamento com pressão.
“Se as autoridades responsáveis pela liberação da obra estiveram aqui e não falaram nada, estão erradas do mesmo jeito, porque estamos vendo aqui um desperdício. Em um momento como esse, é um desperdício”, disparou.
Para Soffiati, o correto seria que, em tempos de crise hídrica, essa água fosse aproveitada para atender casos de falta e necessidade do recurso natural não renovável que ainda assim é desperdiçado.
“A empresa tinha que colocar essa água em um caminhão pipa para ser utilizada em outro lugar ou até mesmo ser colocada no subsolo em outro lugar. Ela podia estar ajudando a agricultura que está sofrendo com a seca. Essa água até volta para o subsolo, mas não do mesmo jeito que saiu”, revelou lembrando a mortandade de gado e perdas na lavoura, por falta d’água que vem atingindo a região.
Fiscais do Inea e da Prefeitura estiveram no local do vazamento na manhã desta quinta-feira. Com relação ao problema, a Secretaria de Obras informou através de nota, que a empresa responsável pela obra já foi notificada e que a mesma entrou em contato com a Prefeitura para as devidas providências.
Aos moradores antigos do entorno, como Silvia Abud, de 59 anos, resta a revolta e a indignação com o que para ela soa como falta de consciência.
“Moro aqui há 40 anos e nunca vi esse absurdo. Já foram construídos prédios que jamais jorravam água desse jeito. Está certo que a empresa está dentro da legalidade, porque as autoridades liberaram, mas é um absurdo ver essa água sendo jogada fora desse jeito, diante dessa crise. É um absurdo”, lamentou.
Ao humilde lavador de carros, Claudio Rangel Barros, de 50 anos, cabe a pequena atitude, que se reproduzida em escala poderia ao menos amenizar a situação.
“É uma covardia! Pra não sofrer tanto com esse descaso, no lugar de pegar a água da torneira para lavar os carros, eu uso a água daqui”, disse ele, sem se preocupar com autorização.
Fonte: Ururau | Blog Pense diferente