quinta-feira, 29 de maio de 2014

PATRIMÔNIO HISTÓRICO EM DISCUSSÃO EM CAMPOS

(Fotos: Ralph Braz)
História e beleza reunidas em um único local. Quem vai ao Centro de Campos tem que dar uma passada no Mercado Municipal para fazer algumas compras. Afinal, campista que se preze vai ao Mercado, nem que seja uma única vez por semana. A beleza do prédio em estilo inglês, de 1921, porém, ficava escondida em meio aos toldos da Feira Livre e atrás da grande estrutura do Shopping Popular Michel Haddad. Com as obras de revitalização do Centro, o Shopping Popular foi demolido, e os 390 camelôs que trabalhavam no local, transferidos, no dia 10 de março, para o Parque Alberto Sampaio.


Segundo a Prefeitura, o prédio histórico do Mercado Municipal sofrerá intervenção, mas ainda não há data para o início da obra. Enquanto os comerciantes da Feira Livre e do próprio Mercado aguardam informações sobre uma provável transferência para um local provisório, ainda a ser definido, a reforma desperta questionamentos a respeito da participação da população na definição do que será feito com a construção, patrimônio arquitetônico de Campos.


Em uma rede social, o jornalista Vitor Menezes abriu um debate sobre a possibilidade de se fazer uma audiência pública para saber o que a população pensa sobre as obras de revitalização do Centro Histórico e do Mercado Municipal. Uma das propostas seria uma mudança definitiva da Feira Livre e do Shopping Popular para um lugar próximo. Assim, o contorno seria liberado e o prédio do Mercado conseguiria “respirar” na paisagem.

(Fotos: Reprodução/ Blog Campos Fotos)
Antes de tudo, o que postei na rede social é uma opinião de cidadão preocupado com minha cidade. Já faz algum tempo que ando preocupado com a situação do prédio do Mercado Municipal. O local fica sufocado na paisagem, totalmente desvalorizado. A questão levantada seria a realização de um plebiscito para saber o que a população pensa sobre as obras de revitalização do local. Não é para tirar os comerciantes do prédio. Eles, que já trabalham lá, devem ficar. O que deve ser feito é uma maior valorização do prédio histórico do Mercado. Deve-se pensar em uma solução em que ninguém se sinta prejudicado — enfatiza Vitor, que também é professor da Faculdade de Filosofia de Campos (FAFIC) e presidente da Associação Campista de Jornalismo (ACI).

(Vitor Menezes/ Foto: Wellington Cordeiro)
Para a historiadora Sylvia Paes, uma audiência pública deve acontecer. Segundo ela, o prédio está escondido em meio a outros e sua beleza não é valorizada.

(Foto: Reprodução/ Facebook)
— Concordo com Vitor. Acho necessária uma audiência pública sobre as obras. Muitos mercados já foram revitalizados em ganharam uma nova roupagem. Um grande exemplo é o prédio do mercado de Florianópolis, capital de Santa Catarina. Foi deixada no local apenas a parte de alimentação, artesanato e lazer. Carnes e peixe, verduras e legumes foram transferidos para um local próximo. Sei que a prática de ir ao mercado é um costume muito antigo em Campos. Muitas pessoas poderiam não gostar de mudanças como esta. O que não pode acontecer é transferir a Feira Livre para um local muito longe. Mas, o fato é que tornou-se necessário ter um lugar mais humanizado para se fazer compras e até mesmo para trabalhar — destaca a historiadora.

(Fotos: Reprodução/ Blog Campos Fotos)
Quem também falou sobre o assunto foi o professor de História Aristides Soffiati. Segundo ele, a audiência pública é um bom caminho, mais muitas pessoas poderiam ser contra as mudanças do Mercado. Ainda assim, diz, deve-se pensar em soluções para destacar o prédio, que anda tão escondido.

— Muitas pessoas podem ser contrárias a mudanças. A população e a própria Prefeitura não têm uma educação patrimonial sobre o assunto. A visão de muitos é que “coisa antiga” é “coisa velha”. Deve haver uma audiência pública sim. É preciso ter uma solução para o uso do prédio. O Mercado não pode continuar da maneira como está — comenta Soffiati.

(Leonardo Vasconcelos)
Para o pesquisador Leonardo Vasconcelos, é necessário que se mantenha o projeto original do Mercado. Mas, o espaço não deve abrigar a Feira Livre e o Shopping Popular.

— Não sei até onde vai a opinião das pessoas e se uma audiência pública seria a melhor solução. A população pode ser contra. O local é muito bom, próximo à rodoviária, mas, ao mesmo tempo, é muito dentro do Centro, o que faz com que os alimentos vendidos se misturam com a poluição da cidade. Deve-se pensar em uma solução para que se preserve a história e, ao mesmo tempo, aumente o progresso — diz o pesquisador.

O Mercado Municipal já passou por grandes reformas, sendo a última e maior delas na década de 1970. De lá pra cá, toda a estrutura vem se degradando com o tempo. A reforma é promessa de vários governos anteriores e a espera já dura mais de 20 anos.



Fonte: Folha da Manhã