segunda-feira, 21 de abril de 2014

FOTOS PARA GUARDAR E CONHECER CAMPOS

(Foto: Genilson Pesssanha / Folha da Manhã)
As imagens também revelam as entrelinhas. Pensando nisso, é que se torna possível conhecer Campos por meio de fotos antigas. Esse contato com o passado nos permite compreender os vazios que mostram a falta de cuidado com a preservação patrimonial e a perda dos laços afetivos criados a partir da relação com as referências urbanas do município.

O pesquisador Leonardo Vasconcellos Silva, que disponibiliza grande acervo sobre a cidade, aponta a perda das referências campistas construídas a partir dos bens arquitetônicos. Ele lembra o que já compôs a paisagem da área central da cidade e aponta o que foi destruído.

— Campos é uma não-cidade. Nossas referências são destruídas a cada dia. Perdemos esses bens arquitetônicos que têm um caráter afetivo. Os idosos devem se sentir órfãos. Campos perdeu o Cine Teatro Trianon, o Cine Goitacá, frequentado pela elite, e o Cine a Coliseu, que reunia camadas sociais mais populares — destacou.
(Fotos: Ralph Braz)
Esse problema, porém, existe em todo o país, explicou o pesquisador. Ele ressaltou que na Europa, por exemplo, os centros históricos são preservados, o que não acontece no Brasil. Aqui, o antigo é atrasado, o velho é desnecessário, é gaga, diferentemente de países europeus e africanos. “Estive em Angola e em determinadas comunidades os idosos são considerados sábios”, salientou Leonardo.

O que agrava a situação de Campos é que as mudanças acontecem, as referências são varridas de diante dos olhos e da experiência social cotidiana e não há um acervo cultural para substituir. As casas de chá, os cafés — que eram espaços de sociabilidade — se findaram.

Para Leonardo, os estacionamentos que aparecem a todo o instante no centro histórico de Campos são piores que a especulação imobiliária por criarem o que o pesquisador denomina “cárie, um vazio urbano”. Essa desilusão o fez desistir de atuar no Conselho de Preservação do Patrimônio Arquitetônico Municipal (Coppam), do qual era membro.
 


Entretanto, o interesse pelo conhecimento do passado por meio das fotos é mantido vivo por estudantes, pesquisadores e jornalistas, que procuram o pesquisador para ter acesso a um imenso acervo. Ele destaca os trabalhos desenvolvidos por estudantes do Isecensa, da Faculdade de Filosofia de Campos (Fafic) e do Instituto Federal Fluminense. O acervo não possui apenas fotos digitalizadas, mas também negativo em vidro, guardado com cuidado, envolto por papel com ph neutro. A peça apresentada por Leonardo registra um grupo de jovens, que se encontrava na esquina da Alberto Torres com São Bento, prestes a se alistar no Exército. O negativo é de 1919.

A análise das imagens vai além da descrição iconográfica (o que foi retratado). Com estudos acerca da história de Campos é possível entender a formação urbana e arquitetônica através de uma leitura iconológica. “Em uma foto que retrata uma grande enchente do início do século XX podemos – a partir da descrição iconológica – falar das mortes causadas pela leptospirose, relevando problemas com o saneamento”, pontuou.

Metalinguagem

No século XIX, Campos era um pólo cultural efervescente. Não foi à toa que o fotógrafo alemão itinerante Guilherme Bolckau se estabeleceu em Campos, tendo falecido no município. Ele fez fotos para diversas famílias campistas. E o próprio pesquisador possui fotos de seus familiares que foram registradas pelo alemão. As imagens eram coladas em cartões de papelão, que contribuíam para a melhor apresentação do material. O verso da foto servia como um cartão de apresentação do fotógrafo.
 
 
Fonte: Folha da Manhã