A dúvida que está na cabeça de todo mundo é se as dificuldades do grupo de Eike Batista vão afetar BNDES, Caixa e bancos privados que emprestaram para ele, ainda mais após as agências de risco rebaixarem a OGX. A S&P e Moody´s deixaram a nota da empresa perto do nível de risco de calote.
Somando os empréstimos de BNDES e Caixa, foram emprestados R$ 6 bi ao grupo. Quem mais se arriscou foram os bancos públicos.
Hoje, em nota enviada à CVM, a OGX informou que tem recursos para honrar seus compromissos de médio prazo. Lembra que vendeu 40% de Tubarão Martelo para Petronas e que esse campo receberá os investimentos dos outros que serão fechados. É bom lembrar que esta semana Eike tirou US$ 449 milhões da OGX e transferiu para a OSX, para fazer a plataforma que vai explorar o campo de Tubarão Martelo.
As agências reguladoras se comportaram muito mal nessa história. E o grupo, que fez um acordo com o BTG para a reestruturação dos ativos, precisa explicar melhor as coisas.
Isso tudo afeta a economia brasileira, a bolsa e a imagem do país. Um empresário importante de um grupo grande pode dizer qualquer coisa sobre seus negócios e depois falar que não é viável? Sobre Tubarão Azul, ele disse que a produção poderia chegar a 50 mil barris/dia, depois caiu para 20 mil. Isso é bem diferente de não ter tecnologia capaz de transformar esse campo em produtivo.
A diferença entre o que ele disse e os fatos é tão grande que o investidor estrangeiro pode estar olhando e dizendo que esse mercado não tem xerife, alguém que obrigue a empresa a só fazer declarações quando tiver certeza.
Acho que o grupo X entrou nas confusões não por culpa da crise internacional ou do governo brasileiro, que parou de fazer as licitações e tem muitos problemas. Só há um responsável: o próprio acionista controlador das empresas, Eike Batista. A culpa é do estilo de administração, das escolhas que fez, da maneira como administra, empreende.
Acho que esse episódio não afeta as perspectivas, porque há outras empresas grandes interessadas na exploração de petróleo no Brasil. Há muita expectativa em relação ao campo de pré-sal de Libra, por exemplo, que será licitado este ano.
O que não pode é ficar a impressão de que o que o empresário fala no Brasil não necessariamente precisa ter ligação com a realidade. É claro que reveses podem acontecer, mas, nesse caso, muita declaração foi dada antes das perfurações, das pesquisas. É um evento para se aprender o que não fazer no mundo dos negócios e como as agências de classificação de risco não devem se comportar. Não podem ficar em silêncio vendo tudo isso acontecer.
Fonte: O Globo (Míriam Leitão)