Integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) e do Comando Vermelho (CV) estão se infiltrando nos municípios para capturar contratos milionários com prefeituras do País. A ação dos criminosos foi detectada em investigações de São Paulo, Rio, Bahia, e Ceará, entre outros Estados.
Para as facções, ao contrário das milícias, não é o domínio do poder local que está em jogo, mas a oportunidade de obter novos lucros e lavar o dinheiro do tráfico de drogas em atividades lícitas. É por isso que o apoio a candidatos a vereadores e a prefeitos é mais importante do que eleger deputados e senadores.
O Estadão publicou uma série de reportagens com dados sobre atuação do crime organizado no Poder Público. Documentos inéditos de investigações mostram o pagamento milionário de uma prefeitura, por meio de contratos aditivos, para empresas de transporte ligadas ao crime.
Ao mesmo tempo, um vereador teve a empresa apontada como elo para pagamento mensal a integrantes de organização criminosa. O envolvimento do crime, no entanto, tem consequências. Um ex-político, por exemplo, terá de arcar com o pagamento de multa por condenação pelo envolvimento com pessoas ligadas ao PCC.
No Nordeste, a ação do Comando Vermelho culminou até com assassinato de um parlamentar, como apontam investigações na região. Há ainda detalhes de influência dos clãs milicianos no Rio de Janeiro de olho nas próximas eleições.
O crime organizado e a infiltração de grupos criminosos na política têm sido motivo de preocupação no Brasil. Segundo especialistas, essa é uma das grandes ameaças das eleições municipais deste ano.
Um levantamento do Observatório da Violência Política e Eleitoral, da UniRio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro), registrou, entre abril e junho deste ano, 128 casos de violência contra lideranças partidárias em todo o país. O número é mais que o dobro do trimestre anterior e 24% maior em comparação ao mesmo período de 2022, quando ocorreram as eleições federais e estaduais.
No início do mês de setembro , o Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro anunciou a alteração de 53 locais de votação em dez municípios fluminenses, por questões relativas à segurança, afetando mais de 170 mil eleitores.
Doutor em Ciências Policiais e Segurança Pública, Alan Fernandes, pesquisador do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, vê com preocupação a ação desses grupos, acusados de pressionar eleitores para que votem em determinado candidato ou mesmo deixem de comparecer às urnas.
Miguel Carnevale, pesquisador do Grupo de Investigação Eleitoral da UniRio, explica que essa atuação é ainda mais forte nas eleições municipais. Segundo o pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política e Violência da Universidade Federal Fluminense, André Rodrigues, pesquisas apontam que os pleitos municipais são sempre mais violentos do que os demais.
No caso do Rio de Janeiro, o Ministério da Justiça e Segurança Pública já estendeu o prazo de permanência de homens da Força Nacional de Segurança por 90 dias, o que inclui as datas de campanha e votação. Além disso, a Secretaria Estadual de Segurança informou que a Polícia Militar está fechando seu planejamento operacional para os dias de votação.