terça-feira, 6 de novembro de 2018

Ligações telefônicas mostram Picciani e Bruno Dauaire falando sobre prisão


Novos trechos de interceptações telefônicas, com autorização judicial, obtidas pelo RJ2, envolvem a cúpula do MDB no Rio de Janeiro. As provas fazem parte das alegações finais apresentadas pelo Ministério Público Federal à Justiça, antes do julgamento da operação Cadeia Velha.

Em uma das conversas interceptadas, no dia 16 de novembro de 2017, Jorge Picciani articula para sair da prisão, horas antes de se entregar.

Entre os réus estão os deputados estaduais afastados Jorge Picciani, Paulo Melo e Edson Albertassi – todos integrantes do MDB e apontados pelo MPF como integrantes do esquema de corrupção na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj.

Os procuradores afirmam que os deputados estaduais integravam o núcleo político da organizaçãpo criminosa que beneficiou empresários em troca de propina.

Nesse dia, a segunda turma do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (Rio e Espírito Santo) havia decidido prender os políticos, por unanimidade, um dia depois da deflagração da operação.

A investigação mostra que, entre a decisão da Justiça e sua apresentação na Polícia Federal, o presidente afastado da Alerj pressiona o deputado Bruno Dauaire, atualmente no PRP, para que vote pela liberação dele em votação no dia seguinte na assembleia.
  • Jorge Picciani: Bruninho, querido.
  • Bruno Dauaire: Presidente.
  • Jorge Picciani: Tudo bem?
  • Bruno Dauaire: Tudo… e o senhor?
  • Jorge Picciani: Bem… Tô aqui com o doutor Hariman…
  • Bruno Dauaire: Aham.
  • Jorge PiccianiI: E… Vamos ter uma extraordinária amanhã às 15 horas…
  • Bruno Dauaire: Às 15h?
  • Jorge Picciani: É.
  • Bruno Dauaire: Tá…
  • Jorge Picciani: Preciso de você, tá bom?
  • Bruno Dauaire: Tá bom… Tá bom, presidente.
  • Jorge Picciani: Tá certo?
  • Bruno Dauare: Tá certo… amanhã você vai tá cedo aí? Eu tô em Campos e tô indo pro Rio.
  • Jorge PiccianiI: Não. Amanhã vocês que vão me fazer voltar…
  • Bruno Dauaire: Ah tá…
  • Jorge Picciani: Entendeu?
  • Bruno Dauaire: Tá bom… Tá bom.
Apesar de ter assumido o compromisso, o deputado Bruno Dauaire se absteve na votação do dia 17 de novembro.

Picciani e os outros deputados tiveram as prisões suspensas no plenário, mas a decisão foi revertida pela Justiça quatro dias depois.

O MPF diz que não se pode ter como aceitável que o próprio interessado interviesse para influenciar nos votos de seus pares, sobretudo valendo-se da sua força como presidente.

No áudio de outra gravação revelada agora, Edson Albertassi conversa com o governador Pezão. Eles falam sobre como podem manter a indicação do então líder do MDB para uma vaga no Tribunal de Contas do Estado que tinha sido questionada na Justiça.

Essa possível nomeação atrapalharia a investigação, já que Albertassi ganharia foro no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

A seguir, a interceptação telefônica:
  • Pezão: Fala Albertassi.
  • Albertassi: E aí?
  • Pezão: O que você cancelou aí pô?!
  • Albertassi: Não, olha só, você viu que a desembargadora deu 72h para as respostas. Enfim, a preocupação aqui é de ficar como uma afronta entendeu.
  • Pezão: Ahn, entendi…
  • Albertassi: E aí seguir uma linha de mais prudência mesmo… Tanto que a nota dele é em respeito ao poder judiciário, entendeu?
  • Pezão: Tá. Mas essa comunicação vai chegar pra gente?
  • Albertassi: Vai, eu acho que sim.
  • Pezão: Tribunal vai mandar?
  • Albertassi: Vai chegar pra você, tem que orientar o Leo, tá?
  • Pezão: Quem que é essa mulher?
  • Albertassi: Maria Inês Galvão, eu não conheço.
  • Pezão: Também não.
  • Albertassi: Mas parece que ela vai julgar com a técnica, se julgar com a técnica, sem observações de mídia e tal eu acho que ela vai julgar a nosso favor, porque tecnicamente a AUDICON… o que eles colocaram não tem fundamento nenhum.
  • Pezão: Tá bom fica tranquilo.
  • Albertassi: Prepara o Leo ai porque vai chegar pra vocês.
  • Pezão: Fica calmo.
  • Albertassi: Valeu.

Léo, segundo o MPF, se trata de Leonardo Spíndola, então, procurador-geral do Estado do RJ. Ele foi demitido do cargo depois de se recusar a fazer um parecer defendendo a nomeação de Albertassi para o TCE.

O MPF diz ainda que o diálogo fazia parte das movimentações de Albertassi para conseguir assumir o posto no tribunal de contas.

A cúpula da Alerj foi presa em 2017 na operação Cadeia Velha. Paulo Melo e Edson Albertassi estão no presídio em Bangu, na Zona Oeste da cidade. Jorge Picciani cumpre prisão domiciliar, por questões de saúde.

Por enquanto, a prisão é preventiva, já que ainda não houve julgamento. Como os três tem foro especial, o julgamento será no TRF-2.

O Ministério Público Federal pede que eles seja condenados por corrupção passiva, participação em organização criminosa e lavagem de dinheiro.

O MPF destaca ainda que, após quase um ano da operação, a Alerj não abriu nenhum procedimento disciplinar para apurar a conduta dos três deputados que continuam a receber salários e verbas de gabinete.

Os advogados de Jorge Picciani informaram que o pedido do MPF não condiz com as provas e que espera que o deputado seja absolvido.

A defesa de Edson Albertassi disse que as alegações finais do MPF desconsideram todas as provas colhidas, que interpretam os fatos e insistem cegamente na condenação de um inocente.

A defesa de Paulo Melo reafirmou a inocência do deputado e informa que está preparando suas alegações finais.

A assessoria do governador Pezão disse que a indicação de Albertassi para o TCE aconteceu depois da desistência de três conselheiros substitutos e que Pezão não tinha qualquer participação em atos ilícitos eventualmente praticados por Edson Albertassi.

O deputado Bruno Dauaire não foi encontrado.







Fonte: G1