|
(Fotos: Ralph Braz) |
A cidade de Campos enfrenta a pior seca dos últimos 90 anos. A situação de escassez do rio Paraíba do Sul, que está a dois metros abaixo do nível normal, foi destaque no Jornal Nacional, da TV Globo, na noite de sábado (17). Os municípios abastecidos pelo rio já sofrem as consequências da seca e da estiagem. Há 11 meses, a quantidade de chuva é insatisfatória e não há previsão de melhoras para os próximos dias. Para driblar o forte calor, muitas pessoas optaram por praias ou piscinas. Outras, ainda, transformaram o leito seco do Paraíba em praia urbana, domingo (19), no primeiro dia do horário de verão.
As áreas cobertas pelo rio deram lugar a bancos de areia. Galhos secos, pneus velhos, pedaços de bonecas, garrafas e lixo ocupam trechos que pertenciam, há cerca de dois meses, às águas do Paraíba. No lugar da correnteza, a areia levemente escurecida pela sujeira é coberta por cangas, alimentos e brinquedos de moradores de bairros próximos, que optaram por se refrescar no rio devido à temperatura elevada que, domingo, chegou a 32ºC. Em frente à Usina São João, em Guarus, campistas têm se reunido nas manhãs e tardes de seca de domingo.
— Olha quantas coisas são jogadas aqui. Ele (rio Paraíba) aguentou até não poder mais — comentou Murilo Moreira, de 25 anos, enquanto saía das águas após meia hora de banho. — Isso aqui é resultado da mão do homem. Tudo o que tem acontecido é por isso. E, sem chuva, o calor tende a piorar — ainda destacou.
A alguns metros, homens, mulheres e crianças participavam de um churrasco na beira do rio, que se assemelha a uma lagoa devido à fraca correnteza. O local é chamado de “Cabeça da Coroa”.
— Vamos oficializar a Cabeça da Coroa como área de lazer aos domingos — brincou o pernambucano Severino Cândido, de 49 anos, enquanto assava carne em uma churrasqueira improvisada. Morador da Usina São João desde 1995, o metalúrgico chegou a Campos há 20 anos. Ele trabalhou na usina por cinco meses depois que deixou a seca no Nordeste: “Vivo aqui, pesco à noite. Quando acabou o frio, a gente veio para cá. Antes, isso aqui era tudo água. A gente passava de barco por aqui, pescava, pegava camarão com a mão”.
— Passei fome, passei sede na minha terra. Aqui, eu não preciso andar por seis horas para pegar água, como acontece no Nordeste. Se eu precisar, ando 50 metros e levo baldes para casa — revelou o metalúrgico, que acredita na reversão rápida do problema.
Fonte: Folha da Manhã